Prof. Renato Aquino - versificação

 1. Verso
Menor parte da composição, que obedece a determinados padrões. É cada
uma das linhas que constituem o poema:
“As armas e os Barões assinalados...” (Camões)
Nota: Esse é o primeiro verso de Os Lusíadas, maior e mais importante poema épico da língua portuguesa.
2. Estrofe
É o conjunto de versos:
“Chorava a flor, e gemia,
Branca, branca de terror,
E a fonte, sonora e fria,
Rolava, levando a flor.” (Vicente de Carvalho)
Nota: Essa é uma estrofe de quatro versos, ou seja, um quarteto.
3. Poema ou poesia
Poema é o conjunto de estrofes, a composição poética completa. Atualmente, costuma-se usar a palavra poesia com esse mesmo sentido. Assim, diz-se fazer um poema ou uma poesia. Mas é mais aconselhável reservar a palavra poesia para a arte de fazer versos.
Há muitos tipos de poemas, alguns de forma fixa, outros de determinados conteúdos obrigatórios. Citaremos alguns, sem a preocupação de dividi-los em narrativos, líricos ou satíricos.
• Acalanto
Composição curta e singela destinada a embalar o sono.
• Acróstico
Poema em que as letras iniciais de cada verso formam o nome de alguém ou alguma coisa.
• Balada
Poema narrativo, de caráter simples e melancólico, que geralmente trata de assuntos fantásticos ou lendários. Sua última estrofe é chamada de ofertório - quase sempre em dedicatória ou pedido.
• Barcarola
Composição antiga, de cunho sentimental, que se presta a acompanhamento musical. Faz sempre referência a caminhos por água.
• Canção
Há vários tipos de canções, de acordo com a época. As atuais, chamadas modernas ou românticas, são composições simples e expressivas, que tratam de assuntos variados. Podem ser religiosas, amorosas, nostálgicas, patrióticas guerreiras etc.
• Ditirambo
Poema alegre, com que se exaltam os prazeres da mesa, em especial o brinde.
• Elegia
Composição de tristeza e luto. Divide-se em:
 epitáfio: inscrição tumular;
 endecha ou romancilho: composição que expressa tristeza íntima e desenganos;
 nênia ou epicédio: composição em que se lamenta a morte de alguém.
• Epitalâmio
É o poema que celebra bodas e núpcias. Tem, naturalmente, um tom festivo.
• Genetlíaco
Poema com que se cantam nascimentos e aniversários. Tem, como o epitalâmio, um tom festivo.
• Glosa
É o poema que parte de um motivo previamente estabelecido, chamado de mote, que é então desenvolvido. O mote deve ser repetido ao longo da composição ou ao final dela.
• Haicai
Poema de origem japonesa, de forma fixa, constituído de apenas uma estrofe de 3 versos. Os versos, pela ordem, devem apresentar 5, 7 e 5 sílabas, num total, portanto, de 17 sílabas métricas.
• Hino
Composição que visa a celebrar ideais, sejam cívicos, religiosos, patrióticos ou mesmo profanos. É uma variante da ode.
• Madrigal
Composição que encerra pensamentos graciosos, constituindo-se uma discreta confissão de amor. Em suas origens, possuía forma fixa; hoje apresenta estruturas diferentes.
• Ode
Primitivamente, a ode era, entre os gregos, uma composição para ser acompanhada por música e dança. Aliás, em grego a palavra ode significa canto. É uma composição que trata de assuntos sérios e densos: religião, filosofia, moral etc. Exalta pessoas e coisas, conferindo-lhes profunda dignidade e importância. Tem estrutura estrófica variável.
• Pantum
É poema de forma fixa, oriundo da Malásia e constituído apenas por quartetos. Apresenta uma repetição sistemática de versos: o segundo e o quarto versos de cada estrofe formam o primeiro e o terceiro da estrofe seguinte. E mais:
o poema termina pelo mesmo verso que o iniciou.
• Poema alegórico moral
É aquele que trata da vida dos animais e tem uma finalidade moral. São as fábulas em verso.
• Poema campestre
Aquele que diz respeito à vida no campo. Pode ser:
 Idílio: composição em monólogo que exalta as excelências da vida bucólica. Geralmente traduz forte sentimento amoroso.
 Écloga: tem as mesmas características bucólicas do idílio, mas é poema dialogado.
• Poema burlesco
É aquele que trata de maneira jocosa de assuntos sérios, às vezes trágicos.
• Epopeia
É aquele que narra um fato grandioso, heroico, de interesse nacional e social. Em português, o grande exemplo é a obra máxima de Luís de Camões, Os Lusíadas, que conta a história da viagem de Vasco da Gama e procura valorizar ao máximo o povo português. É dividido em cinco partes - proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo.
• Poema figurativo
A disposição gráfica do poema procura reproduzir a forma do objeto evocado. Famoso exemplo disso é o poema de Fagundes Varela sobre a cruz. a disposição dos versos curtos e longos mostra ao leitor o desenho preciso de uma cruz.
• Poema heroico
Muito parecido com a epopeia, é também narrativo, mas trata de fato menos importante, embora de interesse nacional. Trata de pessoas ou fatos que tenham impressionado a imaginação popular, sem assumir, como a epopeia, um valor universal. Um exemplo de poema heroico é a obra Caramuru, de Santa Rita Durão, que trata dos feitos do aventureiro Diogo Álvares Correia, mais conhecido como Caramuru, que na língua indígena significa “filho do trovão”.
• Poema-piada
Poema com que o autor faz uma brincadeira com alguém ou algo. Pode ser uma crítica bem humorada, como tantas vezes fizeram os poetas modernistas em relação a escritores românticos.
• Soneto
É a mais importante composição poética fixa. Usado em todas as escolas literárias, o soneto é composto por duas quadras e dois tercetos, num total de catorze versos. Normalmente, as quadras rimam entre si, o mesmo ocorrendo com os tercetos.
• Trova
Poema constituído de uma única estrofe, de quatro versos de sete sílabas. A lírica popular lhe dá preferência, o que não quer dizer que não venha sendo utilizada por grandes poetas.
• Xácara
Poema narrativo, de cunho popular. De extensão indeterminada, é formada geralmente por versos de sete sílabas; menos frequentemente, compõe-se de versos de dez ou cinco sílabas. É comum a utilização de rimas toantes (só as vogais tônicas se igualam). Outra característica é o emprego do paralelismo, repetição, integral ou não, de determinados versos.
4. Escansão
É a divisão silábica do verso. Para sabermos quantas sílabas contém um verso, faz-se sua divisão, sua escansão. Escandir um verso é dividi-lo em sílabas métricas.
A escansão é feita palavra por palavra, unindo-se os fonemas vocálicos que se encontram, ou seja, o final de uma palavra e o início da seguinte. Conta-se até a última sílaba tônica. As átonas finais, quando há, são desconsideradas. Vejamos o procedimento correto, no que toca a tais ligações.
• Vogal átona mais vogal átona:
“Pa/ra / que o / so/nho / vi/va / da / cer/te/za...” (Vinícius de Moraes)
• Vogal átona mais vogal tônica:
“...Can/ti/gas / de á/gua / trê/mu/la / car/pi/a.” (Olegário Mariano)
• Vogal átona mais ditongo:
“Es/ta, / de áu/reos / re/le/vos, / tra/ba/lha/da...” (Alberto de Oliveira)
• Ditongo crescente mais vogal átona ou tônica:
“...E / por / me/mó/ria e/ter/na em / fon/te/ pu/ra...” (Camões)
• Três vogais átonas seguidas:
“...To/ca-a, e, / do ou/vi/do a/pro/xi/man/do-a, às / bor/das...” (Alberto de Oliveira)
Nota: O poeta fez a união normal de três vogais átonas em duas partes do verso.
• Vogal átona, vogal átona e vogal tônica:
“...Ou/vin/do a á/gua/ da / fon/te/ que/ mur/mu/ra...” (Olegário Mariano)
• Vogal átona, vogal átona e ditongo:
“...Cin/ti/la. E, ao/ vir/ do/ sol, / sau/do/so e em / pran/to...” (Olavo Bilac)
Observações
1a) Outros tipos de encontros não devem ser unidos:
“E/ra u/ma es/tre/la / tão / al/ta!” (Manuel Bandeira)
Ditongo decrescente mais vogal: tão alta
“Ó / al/mas / pre/sas, / mu/das / e / fe/cha/das...” (Cruz e Sousa)
Vogal tônica mais vogal tônica: ó almas
2a) A pontuação não influi da divisão das sílabas métricas. Não importa se haja pausa trazida pela vírgula ou qualquer outro sinal de pontuação:
“...Oh / ven/tu/ra / do / ri/co! Oh / bem / do /po/bre!” (Cláudio Manuel da Costa)
3a) A letra h inicial não constitui fonema em português. Assim, considera-se o som vocálico, como se não existisse o h:
“Pe/quei, / Se/nhor; / mas / não / por/que hei / pe/ca/do...” (Gregório de Matos)
4a) Convém dizer que, por se tratar de poesia, o autor às vezes desrespeita essas regras, em favor de uma necessidade maior de seu verso. A melhor maneira de ver isso é comparar o verso em questão com outros da estrofe, que geralmente apresenta versos de mesmo número de sílabas. Ou então verificar atentamente o ritmo usado pelo poeta:
“...Da asa da ave ferida...” (João de Deus).
O verso pertence a um poema de versos de sete sílabas. Se as uniões forem feitas, ele terá apenas seis sílabas. Assim, podemos imaginar dois tipos de leitura:
Da / a/sa / da a/ve / fe/ri/da
Da a/sa / da /a/ve / fe/ri/da
5. Metro
É a medida do verso, o número de sílabas que ele possui. O estudo dos metros recebe o nome de metrificação:
“É primavera. A minha mocidade...” (Virgínia Vitorino)
Verso de dez sílabas
“Ó sino da minha aldeia...” (Fernando Pessoa)
Verso de sete sílabas
6. Ritmo
É a distribuição melódica das sílabas tônicas, que torna agradável a leitura do verso:
“Da pátria formosa distante e saudoso...” (Casimiro de Abreu)
Trata-se de um verso de onze sílabas. A 2a, a 5a a 8 a e a 11a sílabas são tônicas. É, como veremos adiante, o ritmo desse verso.
7. Rima
É a identidade de sons que ocorre, a partir das vogais tônicas, entre palavras dos
versos, geralmente as que se encontram no final:
“E a lágrima celeste, ingênua e luminosa,
Ouviu, sorriu, tremeu, e quedou silenciosa.” (Guerra Junqueiro)
VERSOS E RITMOS
1. Monossílabos: versos de uma sílaba; são muito raros:
“Rua
Torta.
Lua
Morta.
Tua
Porta.” (Cassiano Ricardo)
Observações
1a) Embora as seis palavras tenham, cada uma, duas sílabas, os versos são monossílabos, pois, como já vimos, só se conta até a última sílaba tônica do verso, desprezando-se a átona ou átonas finais, quando houver.
2a) Por razões de espaçamento, juntamos os seis versos em uma única estrofe. No original, o poeta os dispõe em estrofes de dois versos.
2. Dissílabos: versos de duas sílabas; também não há muitos exemplos:
“Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti.” (Casimiro de Abreu)
3. Trissílabos: versos de três sílabas:
“...A seus raios
As estrelas,
Que eram belas,
Têm desmaios,
Já por fim.” (Gonçalves Dias)
4. Tetrassílabos: versos de quatro sílabas:
“Nas praias nítidas
Têm voz as vagas...
São bocas trêmulas
Lambendo as plagas.” (Castro Alves)
5. Pentassílabos ou de redondilha menor: versos de cinco sílabas:
“E agora, José?
A festa acabou,
A luz apagou,
O povo sumiu,
A noite esfriou,
E agora, José?” (Carlos Drummond de Andrade)
6. Hexassílabos: versos de seis sílabas:
“Sereno, o parque espera.
Mostra os braços cortados,
E sonha a primavera
Com seus olhos gelados.” (Miguel Torga)
7. Heptassílabos ou de redondilha maior: versos de sete sílabas:
“Teus olhos são negros, negros,
Como as noites sem luar...
São ardentes, são profundos,
Como o negrume do mar...” (Castro Alves)
8. Octossílabos: versos de oito sílabas:
“Bem como serpentes que o frio
Em nós emaranha, – salgadas
As ondas s’estanham, pesadas
Batendo no frouxo areal.” (Gonçalves Dias)
Observações
1a) Os versos octossílabos do exemplo apresentado têm a 2a, a 5a e a 8a sílabas tônicas. Isso dá uma cadência especial ao verso, conhecida como ritmo, principalmente se o poeta repete tal acentuação em todos os versos. Contudo, há infindáveis possibilidades de ritmo para o octossílabo, entre os poetas brasileiros e portugueses.
2a) Os versos de maior extensão, de nove sílabas em diante, apresentam ritmos definidos, como veremos a seguir.
9. Eneassílabos: versos de nove sílabas.
• Acentuação na 3a, 6a e 9a sílabas:
“Já não deitam botões as roseiras,
Já não deitam sequer uma flor.
Elas sentem, percebem – coitadas
Que perderam também seu cultor.” (Junqueira Freire)
• Acentuação na 4a e 9a sílabas:
“Na tênue casca de um verde arbusto
Gravei teu nome, depois parti.
Foram-se os anos, foram-se os meses,
Foram-se os dias, acho-me aqui.” (Fagundes Varela)
10. Decassílabos: versos de dez sílabas.
• Decassílabo sáfico: acentuação na 4a, 8a e 10a sílabas:
“...Como nas hastes em balouço vago
Dois lírios roxos, que acalenta a brisa,
Como um casal de juritis, que pisa
O mesmo ramo no amoroso afago...” (Castro Alves)
• Decassílabo heroico: acentuação na 6a e na 10a sílabas:
“Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!” (Álvares de Azevedo)
“Sei que havia uma ponte sobre o rio
E um cheiro de jasmins pelo caminho...” (Joaquim Cardozo)
• Decassílabo imperfeito: acentuação na 4a e na 10a sílabas, com um acento
secundário na 8a, geralmente uma sílaba subtônica:
“...Voltando à pátria da homogeneidade... (Augusto dos Anjos)
“...Entra no seio dos Iniciados.” (Cruz e Sousa)
“...É a força e a graça na simplicidade.” (Olavo Bilac)
11. Hendecassílabos: versos de onze sílabas; acentuação na 2a, 5a, 8a e 11a sílabas:
“No meio das tabas de amenos verdores,
Cercadas de troncos – cobertos de flores
Alteiam-se os tetos d’altiva nação;
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,
Temíveis na guerra, que em densas coortes
Assombram das matas a imensa extensão.” (Gonçalves Dias)
12. Dodecassílabos ou alexandrinos: versos de doze sílabas.
• Alexandrino clássico: acentuação na 6a e na 12a sílabas.
Apresenta as seguintes exigências:
a) A sexta sílaba pertence a uma palavra oxítona ou é um monossílabo tônico:
“Lá vem o acendedor de lampiões da rua!” (Jorge de Lima)
“Vendo surgir do chão, que sob as patas se abre...” (João Ribeiro)
b) A sexta sílaba pertence a uma paroxítona; nesse caso a palavra tem de terminar por vogal, começando a palavra seguinte também por vogal, para que elas se unam na escansão:
“Aracne foi meu nome e na trama ilusória
Das rendas florescia a minha graça estranha.” (Manuel Bandeira)
Observações
1a) O verso alexandrino clássico é o mais trabalhado de todos. Por isso mesmo, teve largo uso na escola parnasiana, cujos integrantes buscavam trabalhar seus poemas à exaustão, buscando a perfeição formal.
2a) Veja, nos versos de Manuel Bandeira, a união das vogais: nome e / florescia a.
3a) Na realidade, o verso alexandrino clássico é a união de dois hexassílabos. São os dois hemistíquios do verso. A pausa, ou seja, a sexta sílaba, que divide o verso é conhecida como cesura:
“...Chora longo, a rolar na longa voz do vento.” (Olavo Bilac)
1o hemistíquio: Chora longo, a rolar (verso hexassílabo)
2 o hemistíquio: na longa voz do vento (verso hexassílabo)
“Havia no meu peito uma estrela tão pura...” (Alphonsus de Guimaraens)
1o hemistíquio: Havia no meu peito (verso hexassílabo)
2 o hemistíquio: to uma estrela tão pura (verso hexassílabo)
• Alexandrino romântico: acentuação na 4a, na 8a e na 12a sílabas:
“É de renúncia, sacrifício, desencanto...” (Da Costa e Silva)
“Adormecei. Não suspireis. Não respireis.” (Camilo Pessanha)
“É o choro surdo entrecortado do batuque.” (Cassiano Ricardo)
• Alexandrino moderno
Qualquer alexandrino constituído de forma diferente do que se viu até aqui:
“Tenho a alma daquele imigrante em terra estranha...” (J.G.de Araújo Jorge)
CLASSIFICAÇÕES GERAIS DOS VERSOS
1. Versos brancos: sem rima:
“Eras na vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angústias conduzia
O ramo da esperança. Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro.” (Fagundes Varela)
Nota: Os versos são decassílabos heroicos, mas não rimam entre si.
2. Versos livres: sem métrica e sem rima:
“Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.” (Carlos Drummond de Andrade)
3. Versos bárbaros: com mais de doze sílabas:
“A palidez do dia é levemente dourada.
O sol de inverno faz luzir como orvalho as curvas...” (Fernando Pessoa)
Nota: São dois versos de 13 sílabas.
4. Versos isossilábicos: de mesmo número de sílabas:
“Longe da pátria, sob um céu diverso
Onde o sol como aqui tanto não arde,
Chorei saudades do meu lar querido
– Ave sem ninho que suspira à tarde.” (Casimiro de Abreu)
Nota: Os quatro versos têm dez sílabas métricas.
5. Versos heterométricos: de número diferente de sílabas:
“Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
De vivo luzir...” (Gonçalves Dias)
Nota: O primeiro tem onze sílabas; o segundo, cinco.
6. Versos agudos: terminados em palavra oxítona ou monossílabo tônico:
“...Na morna languidez do teu olhar...” (Álvares de Azevedo)
“...Tão pequenina que até causa dó!” (Mário Quintana)
7. Versos graves: terminados em palavra paroxítona:
“Cada dia vos cresce a formosura...” (Gregório de Matos)
8. Versos esdrúxulos: terminados em palavra proparoxítona:
“Eu, filho do carbono e do amoníaco...” (Augusto dos Anjos)
ESTROFES
1. Quanto ao número de versos
• Dístico: dois versos.
A estrofe de dois versos não é comum, nem entre os poetas brasileiros, nem entre os portugueses:
“E ao cálix virginal da pobre flor vermelha
Ia buscar, zumbindo, o mel dourado a abelha!...” (Guerra Junqueiro)
• Terceto: três versos.
Bastante comum por causa do soneto, composto por duas quadras e dois tercetos:
“Eis que venho de longe e sou tão pobre.!
Não acreditas que eu apenas tenha
O manto cor do tempo que me cobre.” (Guilherme de Almeida
• Quarteto ou quadra: quatro versos.
É a estrofe mais comum. Aparece nos sonetos e em muitos outros tipos de poemas, além de ser a estrofe típica das trovas:
“Ó montanha da saudade
A que por acaso vim:
Outrora, foste um jardim,
E és, agora, eternidade!” (Cecília Meireles)
• Quintilha: cinco versos:
“Dava-lhe sempre
No rio, e fonte,
No prado, e selva,
Água mais clara,
Mais branda relva.” (Tomás Antônio Gonzaga)
• Sextilha: seis versos:
“Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu!” (Fernando Pessoa)
• Septilha: sete versos:
“Minha melhor lembrança é esse instante no qual,
Pela primeira vez, me entrou pela retina
Tua silhueta provocante e fina
Como um punhal.
Depois passaste a ser unicamente aquela
Que a gente se habitua a achar apenas bela
E que é quase banal.” (Guilherme de Almeida)
• Oitava: oito versos
É a estrofe típica dos poemas épicos. Os Lusíadas, de Camões, têm 1102 oitavas. O mais comum é que os seis primeiros versos rimem alternadamente, rimando os dois últimos entre si. A esse tipo de estrofe se dá o nome de oitava-rima:
“Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandre e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Netuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.” (Camões)
• Nona: nove versos:
“Foram sonhos. Eram lindos,
Eram lindos... mas passaram!
E desses sonhos já findos
Só lembranças me ficaram.
Só lembranças bem saudosas
Dessas noites tão formosas
Em que os sonhos despontaram,
Só lembranças desses sonhos,
Desses sonhos que passaram!...” (Casimiro de Abreu)
• Décima: dez versos:
“Quando à noite – às horas mortas –
O silêncio e a solidão
– Sob o dossel do infinito –
Dormem do mar n’amplidão,
Vê-se, por cima dos mares,
Rasgando o teto dos ares
Dois gigantescos perfis...
Olhando por sobre as vagas,
Atentos, longínquas plagas
Ao clarear dos fuzis.” (Castro Alves)
Observações
1a) Estrofes de mais de dez versos não recebem nomes.
2a) Alguns gramáticos acusam a existência da estrofe de apenas um verso, que chamam de monóstico:
“Há metafísica bastante em não pensar em nada.
O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.” (Fernando Pessoa)
“A alma de meu avô vem pela sala deserta
Sentar-se ao pé de mim sobre o meu leito
O meu bonito avô Manuel Antônio.” (Joaquim Cardozo)
2. Quanto à medida dos versos
• Simples
Estrofes formadas por versos de mesma medida:
“Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!” (Álvares de Azevedo)
Todos os versos têm dez sílabas.
• Compostas
Estrofes formadas por versos de diferentes medidas:
“E horas sem conta passo, mudo,
O olhar atento,
A trabalhar, longe de tudo,
O pensamento.” (Olavo Bilac)
O 1o e o 3o versos têm oito sílabas; o 2o e o 4o, quatro.
RIMAS
1. Quanto à identidade a partir da vogal tônica
• Toantes: identidade apenas na vogal tônica:
“Pensai: Chegavam, claros e alegres,
E aqui bebiam por largos copos,
E aqui contavam glórias sangrentas...
Donos de todos os bens terrestres,
Nunca sentiram mágoa ou remorsos
Vendo as cabeças que nos contemplam.” (Cecília Meireles)
Nessa sextilha de versos octossílabos, a poetisa utilizou rimas toantes nos
versos 1 e 4 (alegres e terrestres), 2 e 5 (copos e remorsos) e 3 e 6 (sangrentas e contemplam).
• Perfeitas: identidade total a partir da vogal tônica:
“Pensava em ti nas horas de tristeza,
Quando estes versos pálidos compus,
Cercavam-me planícies sem beleza,
Pesava-me na fronte um céu sem luz.” (Fagundes Varela)
• Imperfeitas: a identidade não é total, em virtude de alguma alteração fonética:
“Natal... na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.” (Fernando Pessoa)
“...E a borboleta que adeja
Sobre as flores que ela beija...” (Casimiro de Abreu)
Observações
1a) A rima eva e erva não chega a ser perfeita, por causa da consoante r.
Também a rima eja e eija não é perfeita, por causa do i.
2a) Igualmente constitui rima imperfeita a mudança de timbre da vogal:
“E no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava perto do mar...” (Alphonsus de Guimaraens)
2. Quanto à posição do acento tônico
• Masculinas: palavras oxítonas ou monossílabos tônicos:
“Ó Virgens que passais, ao Sol poente,
Pelas estradas ermas, a cantar!
Eu quero ouvir uma canção ardente,
Que me transporte ao meu perdido Lar! (Antônio Nobre)
• Femininas: palavras paroxítonas:
“Manhã de junho ardente. Uma encosta escalvada,
seca, deserta e nua, à beira de uma estrada.” (Guerra Junqueiro)
• Esdrúxulas: palavras proparoxítonas:
“Enterravam as mãos dentro das goelas,
E sacudidos de um tremor indômito
Expeliam, na dor forte do vômito,
Um conjunto de gosmas amarelas.” (Augusto dos Anjos)
Nota: Consideram-se esdrúxulas também as rimas entre proparoxítonos que não têm identidade de sons a partir da vogal tônica. No Hino Nacional Brasileiro, Osório Duque Estrada utilizou as seguintes rimas esdrúxulas: plácidas / fúlgidos, vívido / límpido, esplêndido / América, símbolo / flâmula. Castro Alves, em Hino ao Sono, vale-se desse recurso ao longo do poema, rimando, entre outros: mísero / tétrica, túnica / prostíbulos e rútilo / súbito.
3. Quanto à classe ou valor da palavra
• Pobres: palavras de mesma classe gramatical:
“Um mundo de vapores no ar flutua...
Como uma informe nódoa, avulta e cresce
A sombra, à proporção que a luz recua...” (Raimundo Correia)
Dois verbos rimando: flutua e recua.
• Ricas: palavras de classes gramaticais diferentes:
“E assim, ligados pelos bens supremos,
Que para mim o teu carinho trouxe,
Placidamente pela Vida iremos...” (Mário Pederneiras)
Um adjetivo e um verbo rimando: supremos e iremos.
• Raras: rimas com palavras de terminações incomuns:
“Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos,
A luz os deslumbra.” (Manuel Bandeira)
A terminação umbra não é comum na língua portuguesa.
• Preciosas: rimas entre uma palavra e a união de duas outras:
“Há uma canção que já não fala,
Que se recolhe dolorida.
Onde, o lábio para cantá-la?
Onde, o tempo de ser ouvida?” (Cecília Meireles)
Rima entre fala e cantá-la (verbo mais pronome átono).
4. Quando à disposição na estrofe
• Emparelhadas: esquema aa, bb etc; ou seja, os versos rimam em sequência:
“Aos que me dão lugar no bonde
E que conheço não dei donde...” (Carlos Drummond de Andrade)
• Alternadas ou cruzadas: esquema abab:
“Há no coração sombrio
Um eco brando e sonoro
Que adormece quando rio
E desperta quando choro.” (José Albano)
Nota.: As rimas alternadas ocorrem quando um verso rima com outro, havendo
entre eles um outro verso. Às vezes num quarteto só rimam o segundo e o quarto.
• Opostas: esquema abba:
“Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura...” (Bocage)
• Encadeadas: o final de um verso rima com o interior do seguinte:
“Que belas as margens do rio possante,
Que ao largo espumante campeia sem par!...
Ali das bromélias nas flores doiradas
Há silfos e fadas, que fazem seu lar...” (Castro Alves)
• Interiores: dentro de um mesmo verso:
“Fada encantada, em teu regaço lasso,
Viajante errante, deixa-me pousar;
Lírio ou martírio, abre teu seio a meio,
Estrela bela, vem-me enfim guiar.” (Castro Alves)
Nota: Com estrela e bela, o poeta faz uma rima imperfeita.
• Misturadas: as que não seguem os padrões estabelecidos:
“Mar seco tão alto,
De um íris cambiante
Que em azul cobalto
Se volve num salto
E no peito amante
O duro basalto,
a pena constante...” (Carlos Drummond de Andrade)
Nota: As rimas em alto e ante se revezam ao longo da estrofe, numa distribuição aleatória, não prevista.
• Aliteradas
Costuma-se chamar de rima aliterada a repetição de um fonema consonantal:
“O colar de Carolina
Colore o colo de cal,
Torna corada a menina.” (Cecília Meireles)
Nota: Às vezes, esse tipo especial de rima ocorre entre dois ou mais versos pela simples repetição da consoante, que pode ser inicial ou não:
“Desce o rio de água preta.
E a perdida serenata
Na água trêmula flutua.” (Cecília Meireles)
Atente para a repetição da consoante t.
“Da velha parede triste
No musgo roçar macio:
São horas leves e tenras
Nascendo do solo frio.” (Joaquim Cardozo)
Triste e tenras constituem rimas aliteradas, pois começam pela mesma consoante.
FENÔMENOS FONÉTICOS DO VERSO
1. Sinérese: transformação de hiato em ditongo, dentro de uma mesma palavra:
“E na apoteose em que a caudal se expande..” (Emílio de Meneses)
O hiato da palavra apoteose (a-po-te-o-se) deve ser pronunciado como ditongo (a-po-teo-se)), para que o verso se ajuste à métrica da estrofe a que pertence, formada por versos decassílabos. Prova disso, é que, com tal pronúncia, temos um verso com acentuação na 4a, 8a e 10a sílabas, ou seja, um decassílabo sáfico. Veja, abaixo, a escansão completa:
E / na a/po/teo/se em / que a/ cau/dal / se ex/pan/de
4 8 10
2. Sinalefa: união da vogal final de uma palavra com a vogal inicial da palavra seguinte:
“...Onde as asas partidas a levaram...” (Antero de Quental)
Na união de onde com as, o hiato (e/a) passa a ser pronunciado como ditongo: iá.
3. Elisão: tipo de sinalefa em que há desaparecimento de um som vocálico:
“Eu deixo a vida como deixa o tédio...” (Álvares de Azevedo)
Nota: A possibilidade de pronunciar como uma única vogal, e não como um ditongo, caracteriza a elisão.
4. Crase: tipo de sinalefa em que a união é de duas vogais iguais:
“...Nos vapores da tímida alvorada...” (Luís Guimarães Júnior)
5. Diérese: transformação, no interior da palavra, de ditongo em hiato:
“...Nos saudosos campos do Mondego,
De teus formosos olhos nunca enxuto,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.” (Camões)
Se dividirmos normalmente as sílabas métricas do primeiro verso, veremos que ele tem nove sílabas, diferentemente dos outros do poema, que têm dez. Basta fazer a escansão dos últimos versos da estrofe, para perceber isso. Quis o poeta que a palavra saudosos fosse lida como tetrassílaba, ou seja, o ditongo au lido como hiato (a-u). Veja a escansão desse verso:
Nos / sa/u/do/sos / cam/pos / do / Mon/de/go
Trata-se, pois, de um decassílabo heroico, como todos os 8816 versos do poema. Antigamente, os poetas usavam trema nesse u, para indicar que ele deveria ser lido em sílaba distinta, formando hiato (saüdosos). A reforma ortográfica de dezembro de 1971 acabou com esse tipo de trema.
Nota: No terceiro verso do exemplo, o poeta não quis fazer a união das três vogais. Se isso fosse feito, teria o verso nove sílabas. Assim, nessa estrofe, encontramos duas licenças poéticas.
6. Ectlipse: supressão da nasalidade de uma vogal, para que haja redução de sílabas métricas:
“...sentado sozinho co’a face na mão...” (Casimiro de Abreu)
A união de com mais a é coa, antigamente escrita co’a. Se o poeta mantivesse com a, o verso passaria a ter doze sílabas, e não onze, como os demais. Veja que se trata de um hendecassílabo, acentuação na 2a, 5a, 8a e 11a sílabas, como prescrevem as regras de metrificação.
7. Cavalgamento: prosseguimento de um verso no outro, anulando-se a breve pausa que normalmente se faz entre eles:
“Súbito cessa o estrepitoso tombo
D’água. Aparece um talho de montanha...” (Bernardino Lopes)
8. Aférese: supressão de sons no início da palavra:
“Assim, se choras, inda és mais formosa...” (Casimiro de Abreu)
inda, redução de ainda.
9. Síncope: supressão de sons no meio da palavra:
“...P’ra escalar a montanha do infinito...” (Castro Alves)
P’ra, redução de Para
10. Apócope: supressão de sons no final da palavra:
“E este mundo não val um só dos beijos
Tão doces duma mãe!” (Casimiro de Abreu)
val, redução de vale.
11. Sinafia: inclusão da sílaba átona final de um verso no seguinte, para que este se iguale aos demais quanto ao metro. A cadência do verso mostra bem o fenômeno:
“Pensavas,
Cismavas,
E estavas
Tão pálida
Então;
Qual pálida
Rosa
Mimosa...” (Casimiro de Abreu)
Escandindo-se normalmente os versos, veremos que apenas o penúltimo não tem duas sílabas, mas apenas uma. Observa-se, pela leitura, que a última sílaba de pálida é naturalmente lida no verso seguinte: “da rosa”, que então se encaixa nos demais, com duas sílabas

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