Locutoras de continuidade da RTP
Nos tempos onde a oferta televisiva em Portugal estava limitada aos dois canais da RTP, parecia que tudo que dava na televisão ficava impresso nas nossas memórias. E nem sequer falo dos programas em si ou até mesmo dos anúncios publicitários, mas até coisas como as vinhetas separadoras, os genéricos de abertura de emissão, o hino tocado no fecho da mesma e a própria mira técnica.
E claro está, algo que ficou para memória daqueles cresceram com apenas dois canais de televisão foram os pequenos espaços de locução de continuidade, onde surgia uma locutora sentada diante de uma câmara a informar sobre os programas que seriam transmitidos a seguir, geralmente destacando um filme que iria passar na RTP nesse dia ou a estreia de um outro programa, fazendo uma síntese desse programa a destacar. Também era hábito aparecerem no final da emissão anunciando a programação para o dia seguinte ou para pedir desculpas em nome da RTP após alguma avaria ou falha na transmissão.
Por exemplo, neste vídeo de 1985, Ana Maria Cordeiro anuncia a exibição na RTP2 do filme turco "O Rebanho".
Segundo o site "Brinca, Brincando", em 1978 houve um concurso público para a admissão de trabalhadores para esta função de locução, tendo sido admitidos treze candidatos: Ana Maria Cordeiro, Cândida Gerardo (que também apresentou as primeiras transmissões dos sorteios do Totoloto), Fátima Medina, Fernanda Garcia, Helena Pinto, Helena Ramos, Isabel Ayres, Isabel Bahia, Manuela Matos (mais tarde Moura Guedes), Margarida Andrade (mais tarde Mercês de Melo) e Teresa Cruz (que foi a primeira capa da TV Guia), bem como dois homens, João Abel Fonseca e Miguel Rocha. Porém, no caso destes, creio que só terão feito locução de continuidade em voz off, pois não me lembro de ter visto nenhum homem a fazer a locução em presença como as suas colegas.
Também desempenharam essas funções, duas apresentadoras conhecidas pela sua condução dos programas matinais nos estúdios do Porto: Ivone Ferreira e Maria João Carreira (mãe da amiga da Enciclopédia de Cromos Ruby Kruss).
Mais tarde, surgiram outros rostos como Ana Paula Reis, Valentina Torres, Lúcia Soares, Serenella Andrade, Vera Roquette, Ana Cristina Valente, Cristina Esteves, Cristina Lebre, Carolina Ferreira, Cecília Penteado, Isabel Martins, Maria João Freire e Susana Santos.
Regra geral, estes pequenos bloco de locução de continuidade consistiam numa locutora sentada em frente a uma câmara num cenário onde geralmente poderia ser visto ao lado ou atrás da locutora o logótipo então vigente da RTP 1 ou da RTP 2. Outra particularidade era que embora várias destas locutoras fossem mulheres bastante atraentes, elas surgiam sempre vestidas de forma sóbria, quando não mesmo pesada, como se houvesse na RTP um esforço para reduzir o máximo de sex-appeal que elas pudessem emanar. Mas mesmo vestidas como funcionárias de repartição de finanças abotoadas até ao queixo, as locutoras não deixaram de fazer parte do imaginário de muitos, inclusivé do mais libidinoso.
A partir de setembro de 1990, os blocos de locução de continuidade presencial ficaram limitados ao fecho da emissão até pura e simplesmente deixarem de existir no início de 1992, substituídos pela locução em voz off. Nos primórdios da TVI em 1993, a função de locução de continuidade foi brevemente recuperada com nomes como Sofia Carvalho, Rita Stock e Cristina Caras Lindas. A locução de continuidade também foi usada posteriormente na RTP Internacional e na RTP África. Actualmente, essa nobre função é alvo de tributo na RTP Memória, com várias celebridades e até cidadãos anónimos a desempenhar a função para recordar os programas a serem exibidos nesse canal.
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