Elias Santana - Gran Cursos (2)

 

 CONCORDÂNCIA VERBAL


I ¾ PRELIMINARES




É a concordância que se faz do verbo com o seu sujeito.


Disso depreendemos que, para fazer uma concordância correta, é tão importante ter presentes as normas que a regem, como reconhecer o sujeito e conjugar o verbo. De nada nos valerá sabermos que o verbo concorda com o sujeito, se não soubermos qual é o sujeito e qual a forma que o verbo deve assumir.




Repõem-se capas de livros.


A certeza de que o exemplo proposto está correto advém-nos dos seguintes fatos:


1º) O sujeito é “capas de livros” (plural);


2º) A 3ª pessoa do plural do presente do indicativo do verbo “repor” é “repõem”;


3º) O verbo concorda, em pessoa e número, com o sujeito.


Iniciemos, portanto, pelo estudo do sujeito, apenas o essencial para o objetivo pretendido: concordância verbal.




Observação:


O conhecimento do sujeito é útil não só para resolver a concordância, mas também ajuda na virgulação, na colocação pronominal e até na interpretação. Os versos




“Ouviram do Ipiranga as margens plácidas


De um povo heróico o brado retumbante”




muitas vezes não são entendidos por desconhecimento de que o sujeito é “as margens plácidas do Ipiranga”, isto é, “As margens plácidas do (rio) Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heróico”.




II ¾ SUJEITO




1- Reconhecimento


Formula-se a pergunta




QUE(M) É QUE PRATICA OU SOFRE A AÇÃO? (verbos de ação)

QUE(M) É QUE TEM A QUALIDADE? (verbos de ligação)




com o verbo do qual se quer achar o sujeito. A palavra ou expressão que servir de resposta será o sujeito.


A luz alegre do sol iluminou a paisagem.


¾ Que(m) é que iluminou?


¾ A luz alegre do sol. (sujeito)




Dois cuidados importantes a tomar:


a) Ao formular a pergunta, deve-se colocar o verbo sempre na 3ª pessoa do singular, sob pena de obtermos como resposta outro elemento da oração.


Os raios alegres do sol iluminaram a paisagem.


¾ Que(m) é que iluminou?


¾ Os raios alegres do sol. (sujeito)




Se perguntássemos “Que é que iluminaram?”, obteríamos como resposta “a paisagem” que, na verdade, é objeto direto.




b) Se houver, junto ao verbo, a partícula “se”, esta deve ser incluída na pergunta.


Na serra, bebem-se bons vinhos.


¾ Que é que se bebe?


¾ Bons vinhos. (sujeito)




Outros exemplos:


Eu e minhas primas fomos ao campo.


¾ Quem é que foi?


¾ Eu e minhas primas. (sujeito)


Tu e Margô tratastes-me bem.


¾ Quem é que tratou?


¾ Tu e Margô. (sujeito)


Amarra-se o burro segundo a vontade do dono.


¾ Que é que se amarra?


¾ O burro (sujeito)


Naquela casa, não se lia nada


¾ Que é que se lia ?


¾ Nada. (sujeito)




Notas:


1 - Se o período contiver mais de um verbo (período composto), repete-se a pergunta com cada verbo, pois a cada um pode corresponder um sujeito diferente.


Encontravam-se reunidos os líderes do movimento, porque surgiram, naquele dia,


questões para as quais se exigia resposta imediata.


¾ Quem é que se encontrava?


¾ Os líderes do movimento. (sujeito da 1ª oração)


¾ Que é que surgiu?


¾ Questões. (sujeito da 2ª oração)


¾ Que é que se exigia?


¾ Resposta imediata. (sujeito da 3ª oração)




2 - A rigor, não há necessidade de se fazer a pergunta, se o verbo estiver na 1ª ou 2ª pessoa do singular ou plural, pois, em geral, o sujeito será “eu”, “tu” “nós” ou “vós”. Só não será “nós” ou “vós”, se foram substituídos por uma expressão equivalente: eu, tu e ele (=nós), eu e ele (=nós), tu e ele (=vós).




Morena linda, serei o teu cantor. (eu)


Quando ouvires a minha voz, despertarás. (tu e tu)


Em nossas almas, encontraremos páginas... (nós)


Descrentes, perdoai a nossa fé. (vós)


“Deus, Ó Deus!... Onde estás que não respondes?” (tu e tu)




2 - Verbos Impessoais


Verbos Impessoais são os verbos que não têm sujeito; por isso, evidentemente, não se faz pergunta para achá-lo.


São eles:


Haver


O verbo haver é impessoal:


a) quando significa existir; isto é, quando pode ser substituído por existir:


Ainda há flores.


(Ainda existem flores.)


Havia poucas mulheres na fila.


(Existiam poucas mulheres na fila.)


Haja rapazes solteiros para tantas moças bonitas.


(Existam rapazes solteiros para tantas moças bonitas.)


Haverá momentos melhores que este?


(Existirão momentos melhores que este?)


Se houver lugares, reserve dois, por favor!


(Se existirem lugares, reserve dois, por favor!)




Observação:


Impessoal é o verbo “haver” significando “existir”, mas o verbo “existir” é pessoal e concorda com o sujeito. Também, neste caso, não se deve usar o verbo ter neste sentido, embora seja comum na linguagem coloquial brasileira e em escritores renomados.


Errado: Tem coisas que só a Philco faz para você.


Certo: Há coisas que só a Philco faz para você.


Certo: Existem coisas que só a Philco faz para você.




b) quando indica tempo decorrido, isto é, quando pode ser substituído por fazer:


Li, há dias, um belo livro.


(Li, faz dias, um belo livro.)




Observação:


Na indicação de tempo, é comum ocorrer dúvida entre HÁ ou A. Facilmente verificamos quando se deve usar Há, verbo HAVER, porque, nesse caso, é possível substituí-lo por FAZ. Além disso, o tempo de que se trata já decorreu.


Há dez dias, programou este passeio.


(Faz dez dias, programou este passeio.)


Trabalho há muitos anos.


(Trabalho faz muitos anos.)




Se o tempo for futuro, será impossível usar FAZ. Isso prova que não se trata do verbo HAVER, mas de simples preposição.


Daqui a dez dias, voltará para casa.


Saiu daqui há (= faz) pouco, mas voltará daqui a pouco.


Noutras acepções, o verbo HAVER é pessoal, isto é, possui sujeito.


“Hão de chorar por ela os sinamomos.”


¾ Quem é que há de chorar?


¾ Os sinamomos. (sujeito)


Os ministros houveram por bem decretar o aumento dos impostos


¾ Quem é que houve?


¾ Os ministros. (sujeito)




Fazer


Esse verbo é impessoal:


a) na indicação de tempo cronológico:


Faz duzentos anos que a democracia começou.


Amanhã fará dois meses que iniciamos esse trabalho.


Vinha lutando, fazia muitos anos.




b) na indicação de tempo meteorológico:


Fez muito frio neste inverno.


Fazia dias quentes quando me resfriei.


Observação:


Neste caso, também é impessoal o verbo ESTAR:


Agora está calor.




Ser


Na indicação de tempo (horário e datas), distâncias e estado do tempo, o verbo SER também não apresenta sujeito.


São 10 horas, e ela não vem.


Quando eclodiu a revolta, eram 31 de março de 1964.


De uma praia a outra, são 10 quilômetros.


O gado morria: era inverno.




Chover


E todos os verbos que denotam fenômenos da natureza: anoitecer, nevar, trovejar, gear, relampejar, amanhecer etc.


No verão, anoitece lentamente.


Choveu durante toda a noite.




Empregados em sentido figurado, esses verbos perdem a impessoalidade:


No salão, choviam confetes e serpentinas:


¾ Que é que chovia?


¾ Confetes e serpentinas. (sujeito)




Observação importante:


Todos os verbos impessoais, quando fazem parte de uma locução verbal, transmitem sua impessoalidade aos verbos que os acompanham. Dizemos que verbo impessoal é doente contagioso.


Poderá haver problemas.


Vai fazer cinco anos que não volto lá.


Está havendo discordância entre os pares.




REGRA


Verbo impessoal (exceto o diferentão do SER) sempre se emprega na 3ª pessoa do singular.


(Observem-se os exemplos dados.)




Classificação do Sujeito




a) Simples - quando há um só núcleo, expresso ou subentendido:


Os pobres não optaram pela pobreza.


Os luminosos raios do sol nascente douravam as copadas das árvores.


Tu venceste pelos teus méritos.


Construiremos uma nação forte. (Nós, subentendido)




Observação:


Não existe a classificação sujeito oculto, embora muitas gramáticas a usem, pois oculto significa que está escondido.




b) Composto - quando houver mais do que um núcleo, caso em que sempre estará expresso:


Saúde e felicidade valem mais que dinheiro.


Tu e eu lutamos pelo mesmo ideal.


Jornal velho e café requentado são pouco apreciados.




c) Indeterminado - quando existe, mas não está expresso, nem pode ser determinado.


Em dois casos, forma-se esse sujeito:


1º - com o verbo na 3ª pessoa do plural, sem precisar o agente da ação:


Andam falando mal de ti.


Bateram na porta.




Observe-se que a concordância se faz com eles (3ª pessoa plural), mas que esse eles pode ser apenas um ele que não se pode precisar. Se disséssemos “Eles andam falando mal de ti”, saberíamos precisamente quem são eles.




2º - com o verbo na 3ª pessoa do singular, acompanhado do se, não havendo nada na frase que responde à pergunta “Que(m) é que se...?”


Precisa-se de serventes.


Fala-se mal de ti na empresa.


Aqui se vive em paz.




Observação:


No primeiro exemplo, há quem pense que de serventes responde à pergunta “Que(m) é que se precisa?”, escrevendo, por isso, precisam-se. A esses incautos advertimos que o sujeito jamais aparece precedido de preposição, e “de” é preposição. O referido exemplo é diferente de “Exigem-se bons serventes”, em que bons serventes responde à pergunta “Que é que se exige?” e não está precedido de preposição.




Fique, portanto, enfatizado que, nesse tipo de sujeito indeterminado, emprega-se o verbo, obrigatoriamente, na 3ª pessoa do singular.


Pode-se indeterminar o sujeito com verbos transitivos diretos, desde que o objeto direto venha preposicionado.


Bebeu-se do vinho. (do vinho não pode ser sujeito, porque é precedido de preposição)





III — REGRAS GERAIS DE CONCORDÂNCIA




a) Para o sujeito simples



Eis a regra mais importante da concordância verbal:


O verbo concorda em pessoa e número com o seu sujeito.




Assim é que, achado o sujeito, sendo ele simples, só resta colocar o verbo em conformidade com o mesmo:


“Por que Deus fez da mulher o suspiro do moço e o sumidouro do velho?”


“Iam-se os homens como as folhas secas das árvores.”


Soaram 12 horas no sino da matriz.


O sino da matriz soou 12 badaladas.


Bateram 6 horas no relógio da varanda.


O relógio da varanda deu 6 horas.




Nota:


Os erros mais freqüentes na aplicação dessa regra ocorrem quando o sujeito está depois do verbo e no plural:


No mundo, existem milhares de periódicos.


Ouvem-se por toda parte os gemidos dos infelizes.


b) Para o sujeito composto


Sendo o sujeito composto, o verbo vai:




1 - para a 1ª pessoa do plural, se contiver “eu”:


Eu, tu e ele estamos no mesmo nível.


Tu e eu somos velhos amigos.


Eu e Helena assistíamos ao filme.


Maurício, João e eu formamos a comissão de inquérito.




2 - para a 2ª pessoa do plural, se contiver “tu” (sem “eu”):


Tu, minhas primas e teu irmão fazeis maus papéis.


Nesse caso, também se admite a 3ª pessoa do plural:


Tu, minhas primas e teu irmão fazem maus papéis.


3 - para a 3ª pessoa do plural, nos demais casos:


Um homem e uma mulher lançaram-se em sua perseguição.






Observação:


Se o sujeito composto estiver depois do verbo, este pode ir para o plural, segundo o que acima se disse, mas também pode simplesmente concordar com o núcleo que estiver mais próximo:


Já chegaram ao local o professor e sua turma.


Já chegou ao local o professor e sua turma.


Àquela entediosa reunião comparecemos eu, meu chefe e um amigo.


Àquela entediosa reunião compareci eu, meu chefe e um amigo.




IV ¾ REGRAS ESPECIAIS




1 - O sujeito é uma gradação — O verbo fica no singular ou vai para o plural:


Um vento, uma ventania, o maior furacão não os inquietava.


Um vento, uma ventania, o maior furacão não os inquietavam.




2 - Sujeito resumido por pronome indefinido como tudo, nada, alguém, ninguém, cada um etc. ¾ O verbo deve concordar com esse elemento:


O local, o horário, o clima, nada nos favorecia.




3 - Sujeito formado por nome próprio plural — O verbo só vai ao plural, se houver, antes, um artigo no plural. Em caso de títulos de obras, o verbo pode ficar no singular ou ir para o plural:


Vassouras fica no Rio de Janeiro.


O Amazonas preocupa os ecologistas.


Os Andes percorrem a América do Sul.


Os Estados Unidos incluem-se entre as nações democráticas.


Os Sertões contam a saga de Canudos.


Os Sertões conta a saga de Canudos.




4 - O sujeito é que ¾ O verbo concorda com o precedente do que:


São fatos que não ocorrem.


Sou eu que mando aqui.




5 - O sujeito é quem ¾ O verbo concorda com o antecedente ou vai para a 3ª pessoa do singular:


Fostes vós quem errastes.


Fostes vós quem errou.




6 - O sujeito é qual de nós, quais de vós, quantos de nós, quem de vós etc. ¾ Se o pronome interrogativo estiver no singular, o verbo fica no singular. Se o interrogativo estiver no plural, o verbo vai para a 3ª pessoa do plural, ou concorda com o pronome pessoal.


Qual de vós errou?


Quais de vós erraram?


Quais de vós errastes?




7 - O sujeito é mais de..., menos de... ¾ O verbo concorda com o numeral que se segue:


Mais de um apostador acertou.


Mais de dez apostadores acertaram.


Menos de dois apostadores acertaram.




Exceção: Se houver idéia de reciprocidade ou repetição da expressão:


Mais de um parlamentar se criticaram.


Mais de um funcionário, mais de um estagiário tiraram férias.




8 - O sujeito é uma expressão de tratamento ¾ O verbo vai para a 3ª pessoa: do singular, se a expressão de tratamento estiver no singular; do plural, se a expressão de tratamento estiver no plural.


V. S.a fique tranqüilo


V. S.as fiquem tranqüilos.




9 - Núcleos ligados por ou ¾ O verbo vai:


a) para o singular, se houver idéia de exclusão ou sinonímia:


Ou o criminoso ou o réu era chamado a depor cada um por sua vez.


O complemento verbal ou o objeto é um termo integrante da oração.




b) para o plural, se houver idéia de adição e concorda com o núcleo mais próximo, se houver idéia de retificação:


Matemática ou Física exigem raciocínio lógico.

O professor de cada matéria ou os professores devem entregar as notas até o final do trimestre.




10 - Silepse ou concordância ideológica ¾ Quando o sujeito estiver na 3ª pessoa do plural, e a pessoa que fala ou escreve sente-se partícipe dele, o verbo pode (não é necessário) ser empregado na 1ª pessoa do plural:


Os homens somos todos corruptíveis.


Os brasileiros caracterizamo-nos como imprevidentes.


O Presidente da República faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei




11 - O sujeito é um e outro ¾ O verbo tanto pode ir para o plural como para o singular:


Um e outro traziam ilusões na bagagem.


Um e outro trazia ilusões na bagagem.


Mas se o sujeito for um ou outro ou nem um nem outro, o verbo deve ser empregado no singular:


Um ou outro procurará novos rumos.


Nem um nem outro esperava a reconciliação.




12 - Sujeito constituído de dois núcleos ligados por com ¾ O verbo:




a) ficará no singular, se o segundo núcleo estiver entre vírgulas. Neste caso, o sujeito é composto e o com funciona como conjunção aditiva:


A jovem loira, com seu cachorro na coleira, desfilava no parque.




b) irá para o plural, se não houver vírgulas. Neste caso, o sujeito é simples e o termo funciona como adjunto adverbial de companhia:


O Padre com o sacristão olhavam indiferentes.




13 - Parecer mais infinitivo ¾ Há duas construções possíveis:


As nuvens pareciam derramar água.


As nuvens parecia derramarem água.




14 - Haja vista ¾ Nesta expressão, vista permanece invariável; o que varia, concordando com o sujeito, é o verbo. Como conectivo, não existem as formas haja visto, haja vistos e haja vistas:


Haja vista o fato.


Hajam vista os fatos.


Haja visto é tempo composto do verbo ver.


Espero que eles hajam visto o filme.




15 - Concordância facultativa ¾ A concordância do verbo será facultativa:




a) se o sujeito for constituído de núcleos sinônimos:


Medo e temor nos acompanha/acompanham sempre.




b) se o sujeito é um coletivo distanciado do verbo:


A multidão, embora os oradores previamente inscritos prolongassem os seus discursos insípidos, esperou/es-peraram pacientemente a palavra do seu grande líder.


c) se o sujeito for um coletivo seguido de substantivo no plural:


Um grupo de torcedores invadiu/invadiram o gramado:




d) se o sujeito for um dos que:


Eu fui um dos que errou/erraram.




e) se o sujeito for uma expressão numérica aproximativa: cerca de... ou perto de...


Passou-se/Passaram-se cerca de duas horas.


f) se o sujeito for uma expressão partitiva, como “a maior parte de...”, “a maioria de...” etc., um coletivo, número percentual, fracionário ou decimal, seguido de um especificador no plural:


A maior parte dos alunos não estuda/estudam.




V ¾ CONCORDÂNCIA DO VERBO “SER”




1) O verbo “ser” obedece, em geral, às mesmas normas até aqui propostas, mas, se estiver entre dois núcleos das seguintes classes, em ordem: PRONOME PESSOAL ¾ PESSOA ¾ SUBSTANTIVO CONCRETO ¾ SUBSTANTIVO ABSTRATO ¾ PRONOME INDEFINIDO, ele concordará com a classe precedente, sem levar em conta a função por ela exercida. Assim:




Tu és Maria. Maria és tu.


Maria é minhas alegrias. Minhas alegrias é Maria.


As terras são a riqueza. A riqueza são as terras.


Tudo são flores.


Tudo são emoções.




2) Casos Especiais


a) Na indicação de horas, datas e distâncias - Nesses casos, como já vimos, o verbo “ser” é impessoal, isto é, não tem sujeito; portanto, concordará com a expressão central do predicativo:


Agora, são duas horas.


Quando eles chegaram, era meio-dia e vinte.


Hoje, são quatorze de maio.


Hoje, é dia quatorze de maio.


Daqui à vila, são cinco quilômetros.


b) As expressões explicativas e retificadoras “isto é” e “ou seja” são invariáveis:


Vieram três convidados, ou seja, os pais e um irmão.


c) As expressões de quantidade (peso, medida, preço, tempo, valor etc.) como “é muito”, “é pouco”, “é demais” etc. também são invariáveis:


Vinte anos para escrever um livro é muito.


Um é pouco, dois é bom, três é demais.




d) A partícula expletiva é que também não varia. (Expletivo significa dispensável, sem função sintática, com uso apenas estilístico)


Eu é que sei disso.


(Eu sei disso.)




VI ¾ LOCUÇÕES VERBAIS




Há locução verbal, quando o sujeito é comum aos verbos que a constituem:


As artes deverão perpetuar as glórias do homem.


Poderiam surgir conflitos, se nada se fizesse.


A realidade precisa ser encarada corajosamente.


Talvez possam ambos viajar juntos.


Os ideais devem ser perseguidos tenazmente.




Como se observa nos exemplos, apenas o primeiro verbo (auxiliar) entra em conformidade (concorda) com o sujeito, permanecendo o infinitivo invariável. Estão, pois, erradas frases assim:


Talvez possam ambos viajarem juntos.


Os ideais devem serem perseguidos tenazmente.


Poderiam, se nada se fizesse, surgirem conflitos.




Observação:


Quando os verbos têm seu sujeito próprio, com os verbos causativos e sensitivos, há uma falsa locução verbal, quando na verdade são dois verbos, cada um com sua autonomia; por isso, cada verbo concorda com o respectivo sujeito:


O professor mandou os alunos estudarem.


O professor mandou estudarem os alunos.


Desenvolvendo a oração:


O professor mandou que os alunos estudassem.


Causativos são os verbos que expressam uma ação que leva a uma consequência, como deixar, mandar e fazer.

Sensitivos são os verbos que indicam a existência de um dos sentidos, como ver, ouvir e sentir.



 CONCORDÂNCIA NOMINAL


1 - Um adjetivo + um substantivo ou vice-versa


O adjetivo concorda em gênero e número com o substantivo:


velha casa casa velha


velhos barcos barcos velhos




2 – Um adjetivo + substantivos (dois ou mais com gêneros e números diferentes ou não)




O adjetivo concorda, em geral, com o substantivo mais próximo:


Escolheste mau lugar e hora.


Escolheste má hora e lugar


Tinha invulgar inteligência e dinamismo.




Observação:


Se os substantivos são de pessoas ou parentesco, o adjetivo vai para o plural.




Chegaram os simpáticos sogro e sogra.


Chegaram os simpáticos sogra e sogro


Vimos as belas Simone e Luísa.




3 - Substantivos + um adjetivo






O adjetivo pode concordar com o substantivo mais próximo ou ir para o plural, com predominância do masculino:




Professores e professoras gaúchas.


Professores e professoras gaúchos.


Ela tem uma filha e um filho loiro.


Ela tem uma filha e um filho loiros.




Tinha muitos vestidos e jóias caras.


Tinha muitos vestidos e jóias caros.


É uma mulher de rosto e corpo belíssimo.


É uma mulher de rosto e corpo belíssimos.


Observação:


A concordância do adjetivo com o substantivo mais próximo é obrigatória, se o adjetivo se referir apenas a este por causa do sentido.




Deu-me beijo e abraço apertado.


O ancião e a jovem sedutora formaram um par estranho.




4 - Um substantivo + adjetivos






São possíveis três construções:




1ª construção


As literaturas brasileira e portuguesa ...


Estudo as línguas inglesa e francesa.


Os dedos polegar, indicador e médio ...




2ª construção


A literatura brasileira e a portuguesa ...


Estudo a língua inglesa e a francesa.


O dedo polegar, o indicador e o médio ...




3ª construção


A literatura brasileira e portuguesa ...


Estudo a língua inglesa e francesa.


O dedo polegar, indicador e médio ...




5 - Concordância do adjetivo em função de predicativo




Observe:




As ruas eram modernas.


A lua ficou triste.


A menina estava enferma.


Mamãe continua bondosa.


Seus olhos e sua boca eram tentadores


Sua boca e seus olhos eram tentadores.


Eram tentadores seus olhos e sua boca


Eram tentadores sua boca e seus olhos.


Era tentadora sua boca e seus olhos.


O clima e a água eram ótimos.


O sol e a lua são poéticos.


O vale e o monte ficaram escuros.


O rio e o vale estavam solitários.


A noite e a lua eram frias.




O predicativo do sujeito, quanto ao número, acompanha a concordância do verbo.






Observação:


Quando o sujeito for um substantivo feminino empregado em sentido indeterminado nas expressões 'é bom', 'é proibido', 'é necessário', 'é permitido' e 'é vedado', sem determinante, o adjetivo fica invariável. A indeterminação do sujeito permanece, quando se usa pronome indefinido.


Pinga não é bom para o corpo. (mas "Esta pinga não é boa...")


É proibido entrada. (mas "É proibida a entrada.")


É necessário muita coragem. (mas "É necessária uma coragem ímpar.")




6 - Casos particulares




a) O problema nos nomes de cores


automóvel gelo olhos azuis


blusas rosa unhas vermelhas


sapatos areia vestidos amarelos


raios amarelo-ouro olhos verde-escuros


blusas verde-musgo camisas rubro-negras




Se o nome de cor é ou contém substantivo, fica invariável. Se for um adjetivo simples ou composto, concorda normalmente, nunca se esquecendo de que, nos adjetivos compostos, só varia o último. A única exceção é azul-marinho (gravatas azul-marinho).




b) Mulher diz: "muito obrigada", "eu mesma", "eu própria".




c) Só, sós


Eles estão sós. (= sozinhos ¾ adjetivo)


Eles só conversaram. (= somente ¾ advérbio)




d) Quite (= livre, desobrigado)


Estou quite. Estamos quites.


Sócio quite. Sócios quites.


A expressão em dia, apesar de ser sinônima de quite, é invariável.




e) Meio


Como numeral (acompanhando substantivo), varia:


meia maçã


meio-dia e meia (hora)


meia-noite.




Como advérbio, fica invariável:


Ela estava meio tonta.


Como substantivo, varia em número:


Ônibus e trem são meios de transporte.




f) Anexo, incluso e apenso


São adjetivos; devem variar:


As folhas anexas contêm os exercícios.




g) Menos / alerta / pseudo / de forma que / de modo que / de sorte que / de maneira que / exceto / salvo / tirante / mediante / não obstante


São palavras invariáveis


Menos é advérbio ou pronome indefinido, pseudo é prefixo, alerta é advérbio, de forma que, de modo que, de sorte que e de maneira que são locuções conjuntivas, salvo, tirante, exceto e mediante são preposições, não obstante é locução prepositiva ou conjuntiva.




h) O substantivo e os numerais




- cardinais


Concordam com número, quando este estiver expresso ou implícito:




Folha n.º dois.


Página dois.


Casa duzentos.




Mas:




Duas folhas.


Duas páginas.


Duzentas casas.


- Ordinais


Obedecem às regras que se inferem dos exemplos:


Cometeu as infrações segunda e terceira.


Subiu aos andares primeiro e segundo.


Cometeu a segunda e terceira infração.


Cometeu a segunda e terceira infrações.


Subiu ao primeiro e segundo andar.


Subiu ao primeiro e segundo andares.




Particípio


O particípio, que às vezes é verbo e outras vezes é adjetivo, concorda com o termo a que se refere, nas orações reduzidas e na voz passiva:




As casas foram construídas com recursos do Estado.


As mulheres amadas são mais felizes.


Feitas as pazes, foram comemorar.


Dadas as circunstâncias, foi necessário retroceder.




Encerrada, depois de longos debates, a reunião, todas as pessoas presentes foram convidadas para o coquetel.












Observação:




Com os verbos ter e haver, forma os tempos compostos, caso em que não varia:


As flores tinham desabrochado.

Se elas não houvessem causado problemas, seriam convidadas.


Melhor e mais bem

Antes de particípio, deve-se usar mais bem, jamais melhor:

Estas obras estão mais bem acabadas.

Os atletas mais bem treinados vencerão.


Expressões de tratamento

Para efeito de concordância, as expressões de tratamento V. Ex.ª, V. Ex.as, V. S.ª, V. S.as etc. comportam-se como se fossem você (singular) ou vocês (plural):

Se V. Ex.as (vocês) estivessem em seu juízo perfeito, compreenderiam que nada lhes devemos, porque os elegemos para que cumpram com suas obrigações.


Observação:

Há que se respeitar o sexo da pessoa:

V. Ex.a é muito generoso. (homem)

V. Ex.a é muito generosa. (mulher)

Quando há aposto, a concordância segue a mesma regra:

V. Ex.a., o senador, está impressionado.

V. Ex.a., a senadora, está impressionada.



 REGÊNCIA VERBAL




1) A regência verbal trata da relação de dependência que se deve estabelecer entre o termo regente (verbo) e o termo regido (complemento: objeto direto e objeto indireto).


2) Sabemos que os verbos, quanto à transitividade, se, classificam em:




INTRANSITIVOS: quando têm idéia completa, isto é, quando não precisam de complemento:


As velhas casas desabaram.




TRANSITIVOS DIRETOS: quando não têm idéia completa, isto é, quando exigem complemento (objeto direto), e este se liga ao verbo sem o auxílio de preposição:


Ele vendeu a velha casa.




TRANSITIVOS INDIRETOS: quando não têm idéia completa, e o complemento (objeto indireto) relaciona-se ao verbo, obrigatoriamente, através de uma preposição:


Ele já não gostava da velha casa.




TRANSITIVOS DIRETOS E INDIRETOS: quando o verbo aceita os dois complementos:


Ele deu o dinheiro aos filhos.




3) A regência verbal nada tem a ver com os adjuntos adverbiais. Estes dão à frase circunstâncias opcionais e são precedidos de preposição, que poderá ser qualquer uma, de acordo com a idéia que se quiser transmitir:


Ele corria no parque.


Ele corria de medo.


Ele corria com seu guaipeca.


Ele corria entre as árvores.


Os adjuntos adverbiais podem ir-se, acumulando na mesma frase, haja ou não complemento:


Ele corria durante a tarde, contra o vento, sem camisa.


Ele vendeu a casa no fim do mês, contra a sua vontade.




4) Felizmente, sabemos, em geral, o tipo de relação que se estabelece entre o verbo e seu complemento, como nestes exemplos:


Geralmente, os filhos sobrevivem aos pais.


Filiou-se ao grupo dos que, para eximir-se de castigo, imputavam a culpa aos outros.


Utilizou as informações e aproveitou-se da oportunidade.




Entretanto, noutros casos, acostumados a ouvir e ver o erro, encontramos dificuldades.


É o caso dos seguintes verbos:




Aspirar




a) No sentido de desejar, almejar, é transitivo indireto (não admite lhe, lhes):


Os homens aspiram ao bem-estar.


Há muitos bacharéis que aspiram à carreira diplomática.


Aspirava a uma posição mais elevada e a um ordenado maior.




b) É transitivo direto no sentido de respirar, sorver:


Os mineiros aspiravam o pó insalubre das minas.


Todos os dias aspiramos a névoa poluída da metrópole.




Visar




a) No sentido de ter em vista, é transitivo indireto (não admite lhe, lhes):


Se visarmos apenas aos bens materiais, morreremos frustados.


Não visamos a qualquer lucro.


Visamos à paz e ao progresso social.




b) É transitivo direto no sentido de mirar e dar visto:


Caitutu visou a testa da cobra que picara o seio de Lindóia.


Ele visava os contratos com muito cuidado.




Assistir




a) No sentido de ver, presenciar, estar presente, é transitivo indireto (não admite lhe, lhes):


Os que estavam presentes assistiram a uma cena comovedora.


Não é bom assistir à televisão sem espírito crítico.



b) No sentido de caber, pertencer, é transitivo indireto (admite lhe, lhes):


FGTS é um direito que assiste ao trabalhador.




c) No sentido de residir, morar, exige em:


Aspirando a um cargo público, ele vai assistir em Brasília.


É raro seu uso nesse sentido, porém correto.




d) É transitivo direto no sentido de dar assistência, ajudar:


Um bom médico assiste os seus pacientes com devoção.




Querer




a) No sentido de gostar, estimar, é transitivo indireto:


Joãozinho quer muito aos seus pais.


Ele também quer muito à namorada.




b) É transitivo direto no sentido de desejar:


Os meninos queriam um punhado de moedas.




Esquecer e Lembrar


Não mudam de sentido, mas podem ser transitivos diretos ou indiretos.



a) Quando acompanhados de pronome, constroem-se com de:


O jovem ator esqueceu-se do texto.


Esquecia-se freqüentemente das contas que fazia.


Eu me lembro dos meus tempos de guri.




b) Constroem-se sem preposição, se desacompanhados de pronome:


Lembrou o nome do amigo para assumir o cargo.


O jovem ator esqueceu o texto.




Pagar e Perdoar




a) Se o objeto for de pessoa ou instituição, será indireto:


Perdoa aos pobres de espírito, porque não sabem o que fazem.


Não pagaram aos funcionários.




b) Se o objeto for de coisa, será direto:


O Brasil não pode pagar a dívida externa.


Ela não perdoou as ofensas que recebeu.


Obedecer e Desobedecer




São transitivos indiretos, exigem a preposição a. Embora sejam transitivos indiretos, admitem voz passiva, porque antigamente eram transitivos diretos:


Devemos obedecer às normas do coração.


Por que não obedeces aos teus pais?


Muitos brasileiros desobedecem aos regulamentos.




Morar, residir, estar situado etc.




Esses versos constroem-se sempre com a preposição EM e não com a preposição A, como muitas vezes acontece:


Residia na Rua dos Bobos, nº 0.


Elas moram na Av. Atlântida.


Dirigia-se ao prédio sito na Rua dos Andradas, nº 1000.


Preferir




Quem prefere, prefere alguma coisa a outra e não do que outra, e é redundante dizer preferir mais, muito mais, antes, mil vezes, muito mais, um milhão de vezes:


Preferia um bom vinho a uma cerveja.


Prefiro ser rico a ter saúde a ser pobre e doente.










Implicar




No sentido de acarretar, ter como consequência, emprega-se sem a preposição EM:


Magistério implica sacrifícios e renúncias.


As paixões violentas implicam perigos imensos.


No sentido de ter implicância, embirrar, emprega-se com a preposição COM:


Todos implicavam com o barulho da vizinhança.


No sentido de envolver, comprometer, enredar, somente nesse sentido emprega-se com a preposição EM:


Implicaram o político famoso em atividades ilícitas.



Chegar e Ir




a) No emprego mais freqüente, constroem-se com a preposição A e não com EM.


Devido ao trânsito, cheguei tarde à escola.


Foi ao bar beber uma cerveja.


Durante as férias, elas foram à Bahia.




b) O verbo ir constrói-se com PARA, quando houver idéia de permanência:


Se for eleito, ele irá para Brasília.




c) Quando indicam tempo, então sim exigem EM:



Cheguei na hora certa.




5) A preposição, quando exigida, nem sempre aparece depois do verbo, como nos exemplos até aqui relacionados. Às vezes, ela pode ser empregada antes do verbo, bastando. para isso, inverter a ordem dos elementos da frase:


Na Rua dos Bobos, nº 0, residia um grande poeta.




Outras vezes, ela deve ser empregada antes do verbo o que acontece nas orações iniciadas pelos pronomes relativos, principalmente que, quem, qual e cujo:


A moça de que gostava partiu com outro.


As pessoas em quem confiou traíram-no.


Os ideais a que aspira são nobres.


A rua na qual está situada a empresa é das mais movimentadas.




Nesse caso, há um artificio muito prático para identificar a preposição exigida: basta tomar o verbo e construir uma frase em ordem direta, substituindo o pronome por um substantivo:




Ele gostava da (de + a) moça.


Ele confiou nas (em + as) pessoas.


Ele aspira aos (a + os) ideais.


Ela está situada na (em + a) rua.




6) O, A, OS, AS x LHE, LHES


Sabemos que os pronomes oblíquos átonos são: me, te, se, lhe, lhes, o, a, os, as, nos, vos. Pois bem, os pronomes me, te, se, nos e vos tanto podem ser objeto direto quanto objeto indireto, não havendo, portanto, dificuldade no seu emprego, em se tratando de regência.


Mas os pronomes o, a, os, as só podem ser objeto direto, e os pronomes lhe, lhes, objeto indireto. Não se pode, por conseguinte, empregar um pelo outro, a menos que você queira inventar novas regras para a gramática. Está errado dizer:




Eu lhe vi no cinema.




Pior ainda fica, se a frase tem outro objeto indireto:




Em nosso estabelecimento, técnicos especializadas vão ajudar-lhe a construir sua casa.


É claro que o correto é substituir o lhe(s) por o(s) ou a(s):




Eu a vi no cinema.


Em nosso estabelecimento, técnicos especializadas vão ajudá-lo a construir sua casa.


Assim, se o verbo é daqueles que admitem dois objetos, o pronome a empregar será sempre o oposto ao objeto expresso de outra forma. Vejamos:


O orador dirigiu o olhar às galerias.


(O orador dirigiu-lhes o olhar.)


(O orador dirigiu-o às galerias.)




É até mesmo possível representar os dois objetos pelos pronomes ao mesmo tempo:


O orador disse a verdade ao público.


(O orador disse-lha.)


Embora corretas, essas construções são mais usadas em Portugal que no Brasil.




Observação:


A estratégia para certificar-se quanto ao pronome e usar é a seguinte: substituir o pronome por uma substantivo: se o substantivo vier sem preposição (objeto direto), põe-se o, a, os ou as (objeto direto), fazendo a concordância; se o substantivo vier com preposição (objeto indireto), põe-se lhe ou lhes (objeto indireto):


Convidou-os para a festa.


(Convidou o menino para a festa.)


Estas conquistas não lhe pertencem.


(Estas conquistas não pertencem ao menino.)




7) Dois ou mais verbos de regências diferentes não podem ser empregados com o mesmo complemento:


Os alunos leram, e não gostaram do livro.


O povo quer, aspira e precisa de ajuda.




Essas frases corrigem-se assim:


Os alunos leram o livro, e não gostaram dele.


O povo quer ajuda, aspira a ela e precisa dela.




É claro que, se os verbos têm a mesma regência, o complemento pode ser comum a todos:


Comprou, leu e, depois, vendeu o livro.




Para verificar a regência em tais casos, basta construir frases isoladas com cada verbo:


O povo quer ajuda.


O povo precisa de ajuda.


O povo aspira à ajuda.




8) Embora não sejam questões de regência verbal, é oportuno lembrar três tipos de construções que freqüentemente aparecem erradas:




a) "Entre eu e tu não há diálogo."




Havendo preposição, não se empregam os pronomes retos eu e tu, mas sim os pronomes oblíquos tônicos mim e ti.


O certo é:


Entre mim e ti não há diálogo.


Ou então:


Entre nós não há diálogo.


Já não existe relação entre Paula e mim. Para mim e Paula surgiu outro caminho.




b) "Esta laranja é para mim chupar."


Na comparação com o item anterior, essa construção parece correta; entretanto, agora, o pronome a empregar deve ser eu, porque há um verbo no infinitivo depois, do qual o pronome reto é sujeito:


Esta laranja é para eu chupar.


Tal tarefa deve ser para tu fazeres.


c) "Está na hora do espetáculo começar."


Quando, depois de um elemento introduzido por preposição, houver um verbo no infinitivo, a preposição deve ser separada do artigo ou do pronome, embora muitos gramáticos admitam essa contração:


Está na hora de o espetáculo começar.


Apesar de eles discordarem de mim, respeitam minha opinião.




REGÊNCIA NOMINAL




A regência nominal verifica-se com nomes (substantivos, adjetivos e advérbios) de sentido incompleto.




Se dissermos, por exemplo, “Ele tem necessidade” logo perguntaremos: “Necessidade de quê?” Isso prova que a palavra “necessidade” não tem uma significação completa. Ela tem necessidade de algo mais que a explique - o COMPLEMENTO NOMINAL, que vem sempre precedido de preposição.




Exemplos:




- Acostumado a, com


Acostumado à vida do campo estranhou a cidade


Ela não está acostumada com essas coisas.




- Ansioso de, por:


Estamos ansiosos de ver o mar.


Ele está ansioso por dias melhores.




- Assíduo a, em:


Ele é assíduo às aulas.


Assíduo no cumprimento de suas tarefas.




- Isento de:


Estou isenta de culpa.




- Nocivo a:


O fumo é nocivo à saúde:




- Antipatia a, por:


É grande a minha antipatia às tarefas cansativas.


Sinto antipatia pelo esforço.




- Amor a, de, para com, por:


Amor aos estudos.


O amor do povo anima as autoridades.


Amor para com os filhos.


Confessou seu profundo amor por ele.




- Acesso a:


A estrada dá acesso à praia.




- Atenção a:


Prestaram atenção ao que foi explicado.




- Obediência a:


Devemos obediência aos mais velhos.




- Preferível a:


Isto é preferível àquilo.




- Imbuído de, em:


Estava imbuído de más intenções.


Está imbuído em fantasias.




- Propenso a, para:


Era propenso aos estudos.


Era propenso para o mal:


Os substantivos e adjetivos pertencentes ao mesmo radical dos verbos têm a regência destes:


Devemos obedecer às leis.


Devemos obediência às leis.


Somos obedientes às leis.


Advérbios terminados em mente exigem a mesma preposição dos adjetivos de que derivam:


relativo a - relativamente a


diferente de - diferentemente de



 CRASE


I - CONCEITO




Por hora, fiquemos com este conceito:


Crase é a fusão, a sobreposição de dois as, comumente preposição e artigo feminino.


a + a (s) = à(s)




Nota:


Para melhor compreensão deste assunto, é conveniente revisar os conceitos de artigo e preposição, os quais se encontram no capítulo da MORFOLOGIA (classes gramaticais).




II - CASOS EM QUE NÃO EXISTE ARTIGO, SENDO O “ A” APENAS PREPOSIÇÃO




1. Antes de palavra masculina:


Voltamos a pé.


O artigo feminino não pode estar antes de palavra masculina, pois o artigo masculino é o.




2. Antes de artigo indefinido (um, uma):


Entregou-se a uma pessoa leviana.


Não pode haver, diante de um substantivo, ao mesmo tempo, um artigo definido (a) e um indefinido (uma).




Observações:


Antes de uma poderá haver crase em duas hipóteses:


a) quando “uma” for numeral, caso em que é possível substituí-lo por “duas”:


Ele chegou à uma hora.


Ele chegou às duas horas.


b) na expressão à uma, significando “ao mesmo tempo”:


Todos à uma começaram a vaiar.




3. Antes de verbo:


Limita-se a cantar sambas.




Pode-se usar artigo antes de verbo (quando for substantivo), mas esse artigo será o masculino (Gosto de ouvir o cantar dos pássaros), nunca o feminino. Verbos não possuem flexão de gênero (exceto no particípio da voz passiva). Pode haver um a antes de um verbo flexionado (Ele a encontrou no cinema), mas não será preposição, mas pronome oblíquo. O artigo não vem antes de verbos, apenas antes de substantivos.




4. Antes de pronomes, exceto os possessivos (ver o item V):


Devo a ela minha aprovação. (pessoal reto)


Glória a ti, que soubeste vencer! (pessoal oblíquo)


Não me dirijo a qualquer pessoa. (indefinido)


Dedicou a vida a essa causa. (demonstrativo)


Solicito a V.Ex.ª um despacho favorável. (tratamento)


A quem te referes? (interrogativo)




Antes desses pronomes jamais aparece artigo.




Observação:


Os pronomes de tratamento senhor, senhora, senhorita, dona e madame, admitem artigo. Consequentemente, ocorre crase diante deles (item IV).


Antes de pronomes relativos pode haver crase (item VII).




5. Quando a palavra que vem após o a (preposição invariável) estiver no plural:


Dedicava-se a causas nobres.


Se houvesse o artigo, esse deveria concordar com “causas”, e o s apareceria.




Muita atenção para este caso: trata-se de um a (preposição simples, sem s) e de uma palavra no plural em sentido genérico (com s). Se tivéssemos escrito “Dedicava-se às causas nobres”, a construção seria diferente na forma e com sentido específico, e a solução é a do caso comum (item IV).




6. Antes do sujeito e do objeto direto:


Chegou a hora de resolver isso.


Ouvem-se, ao longe, as vozes dos animais.


Estudou as propostas votadas.


Apresentou as colegas de serviço.




Antes do sujeito, jamais haverá preposição. Antes do objeto direto, nunca haverá preposição, exceto em casos especiais, como o objeto direto preposicionado.




III - CASO EM QUE NÃO EXISTE PREPOSIÇÃO, SENDO O “A(S)” APENAS ARTIGO




- Quando, antes do a(s), houver uma preposição:


Insurgiu-se contra as autoridades.


Compareceu perante a comissão de inquérito.


Houve desavenças entre as partes.


O concerto foi marcado para as 21 horas.


As palavras contra, perante, entre e para, como já vimos, são preposições; não poderia haver outra, a preposição a, junto ao artigo.




Observação:


Até, quando significa mesmo, ainda, é palavra denotativa de inclusão; por isso, pode haver crase depois dela:


O bom leitor dá atenção até às vírgulas.
















IV - CASO COMUM DE CRASE




1. Quando é que, “sobre” a preposição, está o artigo, caracterizando a crase?


Na prática, é muito simples fazer essa verificação; basta aplicar o seguinte artifício:


Substitui-se a palavra feminina que estiver depois do a(s) por uma masculina, respeitando a estrutura da frase. Então:




a) se, no lugar do a(s), aparecer ao(s), haverá preposição e artigo; portanto, crase:


Não foi à festa das amigas.


(Não foi ao baile das amigas.)


Disse às amigas que estava resfriado.


(Disse aos amigos que estava resfriado.)




As combinações ao e aos que aparecem nos artifícios provam a existência das contrações à e às (crase) nos exemplos.




se, no lugar do a(s), aparecer o(s), não haverá preposição e, evidentemente, não haverá crase:




Vendeu a casa em que morava.


(Vendeu o prédio em que morava.)


Perdi as peças do jogo.


(Perdi os dados do jogo.)


Os artigos o e os dos artifícios provam que a e as dos exemplos não passam também de simples artigos definidos.




c) se, ao substituir-se a palavra feminina por uma masculina, permanecer, antes desta, a, isso quer dizer que ele será apenas preposição.


Escreveu o bilhete a máquina.


(Escreveu o bilhete a lápis.)


Estávamos face a face.


(Estávamos rosto a rosto.)




Observação:


Como o artifício prova, essas expressões repetidas (“cara a cara”, “boca a boca” etc.) jamais apresentam crase. Em 'É preciso dar mais vida à vida', há um objeto direto seguido de um objeto indireto.




2. Outros exemplos com respectivos artifícios:


- Escreveu à mãe, pedindo a grana de que precisava.


(Escreveu ao pai, pedindo o dinheiro de que precisava.)


- Minha boa mãe, devo à senhora as maiores alegrias da vida.


(Meu bom pai, devo ao senhor os maiores prêmios da vida.)


- À esquerda, navegava um barco a vela.


(Ao lado, navegava um barco a vapor.)


- Andava às cegas à cata de amigas; por isso, só encontrou as infelizes.


(Andava aos trambolhões ao encalço de amigos; por isso, só encontrou os infelizes.)


- Bebeu toda a cerveja, mas não aplacou a sede que, às vezes, lhe invadia a alma dilacerada.


(Bebeu todo o vinho, mas não aplacou o sofrimento que, aos ensejos, lhe invadia o coração dilacerado.)




3. Às vezes, como no último exemplo, surge certa dificuldade para fazer a substituição, ou porque não se encontra uma palavra masculina que agrade, ou porque a expressão em que está o a(s) não tem similar com masculino.


No primeiro caso, basta dizer que a palavra masculina não precisa guardar qualquer relação de sentido com a palavra feminina; o que interessa manter é a construção, a mesma estrutura frasal.


Por exemplo: “Ela foi à igreja.”


O artifício poderia ser: “Ela foi ao culto.”


Mas também poderia ser: “Ela foi ao shopping”, “Ela foi ao teatro”, “Ela foi ao cinema.”




No segundo caso, ou seja, quando não há similar com masculino, a solução é familiarizar-se com tais expressões, que não são muitas.




Eis as mais freqüentes:




à baila


à gandaia


à procura de


às tontas


à beça


à grande


à regalada


às vezes


à bica


à guisa de


às apalpadelas


à superfície


à bruta


à larga


às avessas


à testa de


à busca de


à luz de


às boas


à toa


à cata de


à maneira de


às carradas


à tona


à custa de


à mão


às cegas


à traição


à disposição


à míngua


às claras


à unha


à espera de


à mercê de


às escondidas


à vela solta


à força


à mostra


às ocultas


à vista


à frente


à parte


às pressas


à vontade




4. Em duas circunstâncias, a palavra feminina a substituir está subentendida:




a) Fui à Marco Polo


Refere-se à Globo.


b) Estava vestido à indiana.




Ainda há quem escreva à Vieira.


No primeiro caso, é uma palavra de natureza genérica (“empresa”, “livraria”, “companhia”, “construtora”, “oficina”, “universidade”, “faculdade”, etc.) a que pertence o nome próprio.


Assim:


Fui à empresa Marco Pólo


Refere-se à Livraria do Globo.




O artifício provaria:


Fui ao reduto Marco Polo.


Refere-se ao livreiro do Globo.




No segundo caso, subentende-se a palavra “moda”:


Estava vestido à moda indiana.


(Estava vestido ao jeito indiano.)


Ainda há quem escreve à moda de Vieira.


(Ainda há quem escreva ao estilo de Vieira.)




5. Crase antes de hora.


Caso interessante ocorre quanto à crase antes de horas, não por ser realmente um caso à parte, mas pelos inúmeros ditos e até escritos estapafúrdios que sobre isso surgem. Na realidade, não há nada de novo a acrescentar. O que foi dito até aqui vale também para esse caso. Assim, antes de horas, pode ou não haver crase, bastando aplicar os mesmos recursos:


Compareceu às 10 horas.


(Compareceu aos 10 minutos.)


À 1 hora, irá ao encontro.


(Ao 1º minuto, irá ao encontro.)


Virá daqui a uma hora.


(Virá daqui a um minuto.)


A reunião estava marcada para as 10 horas.


(“Para” é preposição. Item III).


Os bancos deveriam abrir das 10 às 16 horas.


(Os bancos deveriam abrir dos 10 aos 16 minutos.)




V - CASOS FACULTATIVOS




1. Antes dos Pronomes Possessivos


O emprego do artigo antes desses pronomes é facultativo.


Por isso, diz-se que a crase antes deles é facultativa. É, mas em certa circunstância e nada mais.


Comecemos por examinar estes exemplos:


a) Dirigiu-se humildemente a seu pai.


b) Disse não dever nada a seus irmãos.


c) Disse não dever nada a suas irmãs.




Pelas razões expostas no item II (1 e 5), em nenhuma dessas frases existe artigo, não se caracterizando, portanto, a crase. Se quisermos dispor da faculdade de usar os artigos, teremos:


a) Dirigiu-se humildemente ao seu pai.


b) Disse não dever nada aos seus irmãos.




E, obrigatoriamente:


c) Disse não dever nada às suas irmãs.




Na última frase, existe a preposição (quem deve, deve algo a alguém), e passou a existir o artigo, comprovado pelo s; portanto, existe a crase indicada. Se o pronome está no feminino plural, a crase é obrigatória quando o a está seguido de s; se não, é proibida.




Vejamos, agora, estes exemplos:


a) Por que vendeste a tua casa?


Não me interessam as tuas angústias.




Aqui, a indicação da crase nem é facultativa nem é obrigatória: é proibida, porque não há preposição, mas apenas artigos facultativamente usados. Tanto que poderíamos escrever:




a) Por que vendeste tua casa?


b) Não me interessam tuas angústias.




Examinemos, enfim, os exemplos seguintes:


a) Dirigiu-se humildemente a sua mãe.


b) Dirigiu-se humildemente à sua mãe.




Ambos estão certos, porque existe a preposição (quem se dirige, dirige-se a alguém), e o artigo é facultativo, sendo facultativa a indicação de crase.


Quando há elipse do substantivo, será obrigatória:


Referi-me à minha ideia e não à sua.




Conclusão:


Para haver crase facultativa antes de possessivo, é preciso que ele esteja no feminino singular e que haja preposição. Nos demais casos, ou existe ou não existe.




2. Antes de Antropônimos (nomes de pessoas) Femininos


Sendo o uso do artigo facultativo antes dos nomes próprios de pessoas, é facultativo o uso da crase, bastando que o nome seja feminino e que haja preposição.


a) Pediu um empréstimo a Helena.


b) Pediu um empréstimo à Helena,.




Evidentemente, sem preposição não se admite crase.


Vi a Helena no cinema.




Neste caso, o que se pode fazer é não usar o artigo, mas jamais indicar crase.


Vi Helena no cinema.


Se o nome próprio estiver qualificado, será obrigatória:


O troféu foi concedido à guerreira Helena.


Em referência a pessoas com quem não se tem intimidade, não haverá crase, a menos que o nome esteja determinado com um adjunto adnominal:


Fiz homenagem a Fátima Bernardes.


Fiz homenagem à romântica Fátima Bernardes.




O artifício de substituir por nome masculino funciona aqui da seguinte maneira: surgindo a ou ao, a crase é facultativa; aparecendo o ou nada ou se a pessoa é célebre, não existe. Se tem um adjetivo ou locução adjetiva, é obrigatória.




VI - CASO DOS TOPÔNIMOS (nomes de localidades)




Se o topônimo admite artigo feminino e houver preposição, haverá crase:


Referiu-se à França.




Mas se o topônimo não admite artigo, de forma nenhuma haverá crase:


Disse que iria a Paris.




O recurso para verificar se o nome da localidade admite ou não artigo é colocá-lo no início de uma frase qualquer, em função de sujeito.


A França possui muitos monumentos famosos.


A Bahia é a terra de Castro Alves.


Paris é centro cultural.


Santa Catarina progrediu muito.




França e Bahia admitem artigo; Paris e Santa Catarina rejeitam-no.


Observe bem que o fato de o nome da localidade admitir artigo não é a razão suficiente para a existência da crase;é imprescindível que haja também a preposição:


Percorreu a Itália de automóvel.


Fazia à Itália os maiores elogios.


Itália admite artigo (A Itália exporta gente), mas só no segundo exemplo há também a preposição.


Cumpre destacar que todo topônimo acompanhado de um elemento determinante admite artigo. Roma não admite artigo (Roma era dissoluta), porém, se colocarmos ao seu lado o determinante antiga ou dos césares etc., passará a aceitá-lo.


A Roma antiga era dissoluta.


A Roma dos césares era dissoluta.


Por conseguinte, há crase em frases como:


Referiu-se à Roma antiga.


Devemos muito à Roma dos césares.


Você pode usar a seguinte trova:


Se vou à e volto da, acento lá no a!


Se vou a e volto de, acento pra quê?


Se estiver especificado, acento vai ter!



VII - CRASE DA PREPOSIÇÃO A COM O PRONOME DEMONSTRATIVO A(S) antes DE QUE, QUEM, QUAL, QUAIS E DE

Para alguns gramáticos, esse a não é pronome demonstrativo, mas um artigo em função pronominal diante de substantivo implícito, quando se pode subentender um substantivo.




Nada parece mais difícil aos leigos do que reconhecer a crase antes do que, quem, qual, quais (pronomes) e de (preposição). Isso é, todavia, talvez mais fácil do que nos outros casos. Bastará aplicar o mesmo artifício de substituição da palavra feminina por uma masculina, com a diferença de que, nesse caso, a palavra a ser substituída estará antes do a(s) e não depois.




Exemplos:


1) A rua a que nos dirigimos é paralela à que te referes.


(O rio a que nos dirigimos é paralelo ao que te referes.)


2) A casa de Maria é semelhante à que pretendo construir.


(O lar de Maria é semelhante ao que pretendo construir.)


3) A reunião à qual não compareceste terminou cedo.


(O encontro ao qual não compareceste terminou cedo.)


4) As obras recentemente iniciadas, às quais se destinou vultosa verba, serão concluídas antes do prazo.


(Os prédios recentemente iniciados, aos quais se destinou vultosa verba, serão concluídos antes do prazo.)


5) A sabedoria de certos homens é igual à dos burros.


(O saber de certos homens é igual ao dos burros.)


Observações:


1) No caso do que, ao aplicar o artifício, é preciso tomar cuidado para não substituí-lo por qual ou quais, pois isso dará solução errada.


Esta é a obra a que me dedico.


Artifício certo: Este é o livro a que me dedico.


Artifício errado: Este é o livro ao qual me dedico.


2) O de pode estar combinado com outras classes, o que em nada altera a regra.


Minha opinião é oposta à daqueles que fazem a guerra.


(Meu parecer é oposto ao daqueles que fazem a guerra.)


3) Antes de quem, que entrou aqui por uma questão didática, nunca aparece crase.


Esta é a moça a quem dedicou seus poemas.


(Este é o povo a quem dedicou seus poemas.)




VIII - CRASE DA PREPOSIÇÃO A COM O A INICIAL DE AQUELE(S), AQUELA(S), AQUILO.




O pronome demonstrativo aquele e suas variantes pode contrair-se com a preposição :


a + aquele(s) = àquele(s)


a + aquela(s) = àquela(s)


a + aquilo = àquilo.




Como verificar a existência dessa preposição nas frases?




É só substituir aquele(s), aquela(s) ou aquilo por esse(s), essa(s) ou  isso. Se, na substituição, aparecer um a, será a preposição, comprovando a existência da crase.




O que dizer àqueles que não escutam?


(O que dizer a esses que não escutam?)


Àquela que vencer daremos uma viagem.


(A essa que vencer daremos uma viagem.)


Referiu-se àquilo como coisa certa.


(Referiu-se a isso como coisa certa.)




Se nada aparecer antes de este(s), esta(s) ou isto, não haverá crase “sobre” aquele(s) , aquela(s) ou aquilo.




Percorria aqueles caminhos com desenvoltura.


(Percorria esses caminhos com desenvoltura.)


Eram muito tristes aquelas cenas da guerra.


(Eram muito tristes essas cenas de guerra.)


Aquilo não era coisa que se fizesse.


(Isso não era coisa que se fizesse.)

 COLOCAÇÃO DOS

PRONOMES OBLÍQUOS

ÁTONOS



Lista:


me, te, se, o, a, os, as, lhe, lhes, nos, vos.


Estes pronomes são clíticos.


Posições:




PRÓCLISE: antes do verbo - proclítico.


Nada se perdeu.


MESÓCLISE: no meio do verbo - mesoclítico.


Dirigir-lhe-emos a palavra.


ÊNCLISE: depois do verbo - enclítico.


Fugiram-nos as palavras.


Formas verbais e posições permitidas:


Particípio - próclise: permite / ênclise: não permite / mesóclise: não permite

Futuro do presente - próclise: permite / ênclise: não permite / mesóclise: permite

Futuro do pretérito - próclise: permite / ênclise: não permite / mesóclise: permite

Futuro do subjuntivo - próclise: permite / ênclise: não permite / mesóclise: não permite

Demais formas - próclise: permite / ênclise: permite / mesóclise: não permite

Todas as conjugações verbais permitem próclise e, com exceção do particípio, do futuro do presente, futuro do pretérito e do futuro do subjuntivo, permitem também ênclise. Somente os tempos futuro do presente e futuro do pretérito permitem mesóclise.






I - REGRAS DE COLOCAÇÃO NAS FORMAS FINITAS




Nota: Formas finitas do verbo são todos os seis tempos simples (presente, pretérito perfeito, pretérito imperfeito, pretérito mais-que-perfeito, futuro do presente e futuro do pretérito) e os quatro tempos compostos (pretérito perfeito, pretérito mais-que-perfeito, futuro do presente e futuro do pretérito) do MODO INDICATIVO, os três tempos simples (presente, pretérito imperfeito, futuro) e os três tempos compostos do MODO SUBJUNTIVO (pretérito perfeito, pretérito mais-que-perfeito, futuro), e as duas formas do MODO IMPERATIVO (afirmativo, negativo).


As formas infinitas são o GERÚNDIO, PARTICÍPIO (regular e irregular) e INFINITIVO (pessoal e impessoal).




PRÓCLISE




1. Estamos obrigados a colocar o pronome oblíquo em posição de próclise quando, antes e na mesma oração do verbo em que ele (o pronome) se apóia, existir qualquer uma das seis classes gramaticais seguintes:


a) conjunção subordinativa integrante ou adverbial;


Exemplo: Se me for útil, comprarei o relógio.


b) pronome relativo;


Exemplo: Foi ele que me mostrou tudo.


c) pronome ou advérbio interrogativo;


Exemplo: Quem nos ajudará no concurso?


d) pronome indefinido;


Exemplo: No fim das contas, tudo se esclarece como deveria.


e) pronome demonstrativo;


Exemplo: Esse me deixou feliz.


f) advérbio ou locução adverbial (não seguido de vírgula).


Exemplo: Sempre te contei tudo.


Novo exemplo:


O homem produz pouco, quando se alimenta mal.



Próclise, porque, antes do verbo alimentar, está a conjunção subordinativa quando que a exige. Observe-se que esse quando está na mesma oração do verbo em que se apóia o pronome se.


1ª Oração: o homem produz pouco


2ª Oração: quando se alimenta mal


Veja-se, agora, este outro exemplo:


O homem produz pouco, quando, pela ausência de diversidade de culturas agrícolas e pela falta de orientação, se alimenta mal.




A palavra quando, embora não esteja imediatamente antes do verbo, continua a exigir próclise, porque está na mesma oração do verbo alimentar.


1ª Oração: O homem produz pouco


2º Oração: quando, pela ausência de diversidade de culturas agrícolas e pela falta de orientação, se alimenta mal.


Tomemos, finalmente, o seguinte exemplo:


O homem que trabalha realiza-se.


Não deve ser próclise? Não! O pronome relativo que, embora esteja antes do verbo realizar, está em uma oração diferente deste:


1ª Oração: O homem realiza-se


2ª Oração: que trabalha


Concluímos, pois, que não basta a palavra de força atrativa estar antes do verbo em que se apóia o pronome oblíquo; é necessário também que pertença à mesma oração do verbo.


Se, antes do verbo, existir advérbio, este exigirá próclise, quando não estiver seguido de vírgula:


'Aqui vos trago provisões' (Gonçalves Dias')


Mas:


Talvez, digam-lhe a verdade.




Resulta disso que as palavras e expressões negativas se constroem, quase sempre, com próclise:


Nunca se sabe no que vai dar.




2. Se o sujeito estiver logo antes do verbo, a próclise será facultativa, com pronomes pessoais e possessivos, pronomes de tratamento, conjunções coordenativas, substantivos e numerais:




Ele se feriu. ou Ele feriu-se.


O homem se supera. ou O homem supera-se.


Os três te avisarão. ou Os três avisar-te-ão.


Vossa Excelência se impressionou. ou Vossa Excelência impressionou-se.


Pensou, mas arrependeu-se. ou Pensou, mas se arrependeu.


Os seus te lembraram. ou Os seus lembraram-se.


Nota: Essa faculdade não pode contrariar a REGRA 1. Se o sujeito for um pronome indefinido, a próclise será obrigatória:


Ninguém me convencerá.


Tudo se fez em prol da causa.




3. Faz-se próclise também nas orações interrogativas iniciadas por pronomes ou advérbios interrogativos, orações exclamativas iniciadas por palavra exclamativa e orações optativas (orações que exprimem desejo) e com as formas verbais proparoxítonas e com as orações sindéticas alternativas:


Quem te disse que ele não viria?


Quanto me custa dizer a verdade!


Deus te guie!


Nós a encontráramos antes de ele chegar.


Ou me apresenta o trabalho, ou te reprovarei.




MESÓCLISE




Respeitadas as regras estabelecidas para a próclise, far-se-á mesóclise, caso o verbo esteja no FUTURO DO PRESENTE (cantarei, procuraremos, direis, amará etc.) ou no FUTURO DO PRETÉRITO (cantaria, procuraríamos, diríeis, amaria etc.). É uma colocação restrita à linguagem formal, culta e literária, não ocorrendo na fala espontânea de nenhum falante do português do Brasil, a menos que seja intencional. Geralmente é substituída por uma locução verbal formada pelo verbo auxiliar ir. Deve ser evitada em textos argumentativos, por conferir um tom cerimonioso ao discurso.




Procurar-te-emos no escritório.


Diante de uma platéia educada, cantar-se-ia melhor.


Os amigos sinceros lembrar-nos-ão um dia.




Ênclise


Nos demais casos.


Arrependeu-se do que fez.


Digam-me a verdade.






II - REGRAS DE COLOCAÇÃO NAS FORMAS INFINITAS




GERÚNDIO


¾ precedido em “EM” ou de advérbio não-virgulado: PRÓCLISE


¾ demais casos: ÊNCLISE




Em se tratando de internet, eu sou um especialista.


Usaremos essa técnica, pouco nos interessando o que a crítica possa dizer.


Ele falou francamente, revelando-nos a verdade.




INFINITIVO IMPESSOAL


¾ negativo ou precedido de qualquer preposição: PRÓCLISE OU ÊNCLISE


¾ demais casos: ÊNCLISE




Para te dizer a verdade, não sei se ele virá. ou


Para dizer-te a verdade, não sei se ele virá.


Sua intenção era não se contrariar. ou


Sua intenção era não contrariar-se.


Convém contar-lhe tudo.


Ofender-te não era minha intenção.




INFINITIVO PESSOAL ou FUTURO DO SUBJUNTIVO


- sempre PRÓCLISE




Para nos realizarmos, devemos seguir nosso ideal.


Quando nos formarmos, teremos um plano novo.


PARTICÍPIO


jamais aceita ÊNCLISE.
Em 'é importante superá-la', parece futuro do subjuntivo, mas na verdade o verbo está no infinitivo.

Basta substituir o verbo 'superar', que é regular, por um irregular, como 'fazer', por exemplo. Teremos o seguinte: 'é importante fazê-la'.




III - ÊNCLISE DOS PRONOMES “O”, “A”, “OS” e “AS”




1. Se a forma verbal termina por R, S ou Z, suprime-se esse R, S ou Z e antepõe-se L ao pronome oblíquo:




procurar + o = procurá - lo


dissestes + o = disseste - lo


diz + o = di - lo




2. Se o verbo termina por um ditongo nasal (ão, õe) ou por m, antepõe-se n ao pronome oblíquo:




dão + o = dão-no


repõe + o = repõe-no


dizem + o = dizem-no




3. Nos demais casos, nada varia.




Observação:


Ao colocar o pronome nos após as formas verbais terminadas em –mos, suprime-se o s:


dirigimos-nos = dirigimo-nos.


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