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Mostrando postagens de dezembro, 2022

Maiúsculas e minúsculas - siglas

 O presidente Bolsonaro deixou a unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Albert Einstein. Agora está no quarto em processo de recuperação. Tevês, rádios, sites, blogues e jornais noticiaram o fato. Nas matérias divulgadas, sobressaíram dois pontos comuns: 1. o uso indevido das maiúsculas em unidade de terapia intensiva. Unidade de terapia intensiva é substantivo comum como ambulatório, sala de estar, consultório médico, sala de espera, consultório odontológico. Letras minúsculas, exceto em início de frase. 2. a grafia correta da sigla — UTI. Usam-se todas as letras maiúsculas: se a sigla tiver até três letras: Organização das Nações Unidas (ONU), Ministério da Educação (MEC), unidade de terapia intensiva (UTI), Polícia Militar (PM). se todas as letras forem pronunciadas: Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Nos demais casos, só a inicial é grandona: Departam

Lula pede para sair da cadeia: regência

 “Lula pede para sair da cadeia e ir à missa de sétimo dia do irmão.” Certo? Certíssimo. O jeitinho de pedir merece nota 10. Pode-se pedir que e pedir para. As duas construções são parecidas, mas diferentes. Quilômetros de distância as separam. Pedir para esconde as palavras licença, permissão ou autorização: O filho pediu ao pai (permissão) para pegar o carro. O aluno pediu (licença) para sair mais cedo. Lula pede (autorização) para sair da cadeia. Não é nesse sentido? Fique com pedir que: O chefe pede aos empregados que cheguem mais cedo. O empregado pediu ao chefe que não lhe desse só aumento de trabalho. Mas um aumentinho de salário. O diretor lhe pediu que saísse.

Vírgula, travessão ou parênteses?

 Depende. Você escolhe. Mas a opção dá recados diferentes. A vírgula é neutra. Obedece à gramática: Brasília, a capital do Brasil, localiza-se no Planalto Central. O travessão grita. Chama a atenção para o termo que isola: Brasília — a capital do Brasil — localiza-se no Planalto Central. Os parênteses escondem. Dizem que o termo que está ali dentro não faz falta: Brasília (a capital do Brasil) localiza-se no Planalto Central.   É isso. Você escolhe. A alternativa é acertar ou acertar.

Bimensal e bimestral - diferença

 Guarde isto: bimensal é duas vezes por mês, quinzenal (revista bimensal).  Não confunda com bimestral, que significa uma vez a cada dois meses: prestações intermediárias bimestrais.         

Igreja - maiúscula ou minúscula

 Igreja se escreve com a inicial maiúscula quando se trata da instituição religiosa e com minúscula quando se refere a templo: O cardeal defendeu a posição da Igreja. Lutava-se para separar a Igreja do Estado. A velha senhora ia à igreja todos os domingos.     

Redação para o Enem - critérios

 Círculo 1: Critérios Um jogo tem regras. Antes de entrar em campo, o atleta sabe o que pode e o que não pode fazer. Ocorre o mesmo com a redação do Enem. Os critérios  sinalizam o caminho a seguir. Olho neles: Domínio da norma-padrão da língua. Escreva o português que aprendeu na escola. Respeite grafias, concordâncias, regências, pontuação. Nada de liberdades aceitas na internet. Lembre-se: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Deixe o internetês para o YouTube e as redes sociais. Compreensão do tema. Entenda a proposta de redação. Leia-a muitas vezes e faça o que pede tim-tim por tim-tim. Se a ordem for “as causas da obesidade infantil”, foque nos porquês (sedentarismo e alimentação inadequada). Não enrole. Vacilos são a principal razão da nota zero. Seleção e organização dos argumentos. Você vai escrever uma dissertação. Defenderá um ponto de vista. Precisa selecionar, organizar e interpretar argumentos que o ajudem a convencer o leitor. Use a terceira pessoa. Deixe o e

Adversário e inimigo - diferença

 Fernando Haddad fez o discurso da derrota. Tevês transmitiram o pronunciamento ao vivo. Ele falou, falou, falou. Os telespectadores aguardaram a prova de civilidade que faz parte da liturgia do processo — cumprimentar o vitorioso. Não o fez. Na manhã do dia seguinte, mandou o recadinho pelo Twitter. Pegou mal. Ele confundiu adversário com inimigo. Inimigo é alguém que se odeia, a que se tem aversão. Não é o caso de postulantes a cargos eletivos. Nem de times de futebol que se confrontam. Candidatos são adversários durante a campanha, não inimigos. No Grenal, o Internacional é adversário do Grêmio, não inimigo.

Cor-de-rosa com hífen. Cor de laranja sem hífen. Por quê?

 Segunda começa o Outubro Rosa. A campanha para o combate ao câncer de mama adotou a cor que tradicionalmente simboliza o feminino. Ao divulgá-la, pintou a pergunta. Por que cor-de-rosa se escreve com hífen? E cor de laranja, cor de gelo, cor de marfim dispensam o tracinho? A reforma ortográfica cassou o hífen de palavras compostas. Entre elas, as composições de dois ou mais vocábulos ligados por preposição, conjunção, pronome. dia-a-dia, fim-de-semana, ponto-e-vírgula, tomara-que-caia se escreviam com hífen. Agora estão livres e soltas — dia a dia, fim de semana, ponto e vírgula, tomara que caia. As cores entraram na faxina. Antes, cor-de-laranja, cor-de-carne, cor-de-vinho, cor-de-abóbora, cor-de-creme se grafavam desse jeitinho. Agora, mandaram o tracinho plantar batata no asfalto. Ficaram assim: cor de laranja, cor de carne, cor de vinho, cor de abóbora, cor de creme. E cor-de-rosa? A reforma citou o trio como exceção. É a exceção que confirma a regra. Além dessa, são exceções água

Extrema direita ou extrema-direita? Extrema esquerda ou extrema-esquerda? Depende

 Olho vivo! A tendência política é livre e solta. Sem hífen: É político de extrema direita, mas já militou na extrema esquerda. O tracinho tem vez na linguagem futebolística: Uns têm talento pra jogar na extrema-direita; outros, na extrema-esquerda.   Existe mais alguma expressão com o termo extrema com hífen?  Existe mais uma: extrema-unção.

Acontecer - emprego

 “As eleições acontecem no próximo domingo.” A frase aparece nos jornais. Pulula nos sites. Figura em blogues e telejornais. Faz e acontece na boca do povo. Ufa! Acontecer é um verbo cheio de caprichos. Elitista, tem poucos empregos. Mas, por capricho do destino, os colunistas sociais o adotaram. A moda se espalhou como as notícias fraudulentas. O pobre virou praga. Tudo acontece. Até pessoas: Maria está acontecendo no YouTube. O velório de Joaquim Roriz acontece no memorial JK. O casamento acontece na catedral. O show acontece às 22h. E por aí vai. Reação Violentado, o verbo vira a cara. Esperneia. E se vinga. Deixa mal quem abusa dele. Diz que o atrevido sofre de pobreza de vocabulário. Para não cair na boca do povo, só há uma saída. Empregá-lo na acepção de suceder de repente. Acontecer dá a ideia do inesperado, desconhecido: Caso acontecesse a explosão, muitas mortes poderiam ocorrer. O verbinho de sangue azul sente-se muito bem com os pronomes indefinidos (tudo, nada, todos), demo

Aposentar ou aposentar-se?

 O Congresso retomou as atividades. Com ele, voltou ao cartaz a reforma da Previdência e, claro, o verbo aposentar. O governo vai propor idade mínima para homens e mulheres se aposentarem. Aposentar pertence a um grupo especial de verbos. Transitivos diretos, em algumas construções o sujeito e o objeto são a mesma pessoa. Aí, o pronome se impõe porque é o objeto exigido pela ação: O INSS aposenta o trabalhador. INSS é o sujeito. Trabalhador, o objeto direto. O trabalhador se aposenta. Trabalhador é o sujeito. Ele pratica e sofre a ação. O pronome se é o objeto direto. Com as outras pessoas ocorre o mesmo: Eu me aposento. Ele se aposenta. Nós nos aposentamos. Eles se aposentam. Outros verbos jogam no mesmo time. Eis exemplos: acender (alguém acende a luz, mas a luz se acende); apagar (alguém apaga a luz, mas a luz se apaga);  complicar (alguém complica a vida de outro, mas ele se complica); derreter (o calor derrete o sorvete, mas o sorvete se derrete); distrair (o palhaço distrai o púb

Suicidar ou suicidar-se?

O homem enlouquecido invadiu a catedral de Campinas, matou quatro fiéis e se matou. Olho vivo! Ele se suicidou. Suicidar-se é sempre – desde quando farmácia se escrevia com PH – pronominal. Quem conhece a origem do verbo acha estranho. O trissílabo vem do latim. É formado de sui (de si, a si) + cídio (matar) Significa matar a si mesmo. No duro, não precisaria do se. Seria um pleonasmo, dizer que alguém se suicidou seria o mesmo que a pessoa se se matou, bastaria dizer que cometeu suicídio. Mas o teimoso bate pé. Exige o pronome e não abre. O dicionário abonou. Só registra suicidar-se: eu me suicido, ele se suicida, nós nos suicidamos, eles se suicidam.  

Prefixo ex - adeus dúvidas

 Guarde isto: George H. W. Bush foi presidente dos Estados Unidos no período de 1989 a 1993, não ex-presidente. Fernando Henrique Cardoso é ex-presidente do Brasil agora, mas presidente no período de 1995 e 2003. Mantega é ex-ministro da Fazenda, não ex-ministro da Fazenda no governo Dilma. De reis e majestades Ao designar alguém com a duplinha, abra os dois olhos. Nomeie o cargo mais alto que a pessoa ocupou ou aquele no qual ela se tornou mais conhecida. JK foi deputado, prefeito, senador, presidente da República. Quando se referir a ele, escreva o presidente Juscelino. Não o deputado, senador ou prefeito. Os mortos? Esses têm direitos eternos. Glauber Rocha não é ex-diretor de cinema, nem Garrincha é ex-jogador de futebol, nem Renato Russo é ex-compositor. Ao citá-los, diga sem medo de errar: o diretor Glauber Rocha, o jogador Garrincha, o compositor Renato Russo. É a tal história: quem foi rei não perde a majestade. Não troque seu reino por um dicionário.

Ex - olho no tempo

 Hélio Bicudo morreu. No obituário, apareceu a informação “um dos autores do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff”. Nada feito. É verdade que o tempo passa. O atual vira ex. Mas, enquanto não vira, é atual. Se estamos falando do passado, temos de nos colocar no passado. Dilma é ex-presidente hoje. Não era quando corria o processo para lhe cassar o mandato. Melhor: um dos autores do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.  “O processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff também fomentou a crise atual”, escrevemos na pág. 2. Reparou na impropriedade do prefixo ex? Ex-presidente não tem por que responder a processo de impeachment. Melhor: O processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff também fomentou a crise atual. 

As implicâncias do implicar

 O verbo implicar tem três empregos. Em dois, ninguém tem dúvida. Na acepção de ter implicância, irritar, pede a preposição com: O diretor implicou com ele. Na de comprometer, envolver, é a vez do em: A secretária implicou o chefe no escândalo. A dúvida surge no significado de produzir como consequência. Aí, implicar implica e complica. O verbo parece, mas não é. No sentido de acarretar, pressupor, o malandro é transitivo direto. Não suporta a preposição em: Autonomia também implica responsabilidade. Deflação implica recessão. Aumento da taxa de juros implica crescimento do déficit público. O erro acontece porque o verbo resultar, que tem o mesmo sentido, usa-se com a preposição em. Uma coisa resulta em outra, mas implica outra.

Soprar ou assoprar as velas?

 Você gosta de festa de aniversário? Todo mundo adora. A gente encontra os amigos, come salgadinhos, bate papos interessantes, ouve boa música e, depois, canta o parabéns pra você. O aniversariante faz o que deve fazer. Apaga as velinhas. Aí, pinta a questão. Ele sopra ou assopra as velas? Tanto faz. As duas formas merecem nota 10. O felizardo pode soprar ou assoprar as velas. O resultado é um só. Um bolo pra lá de saboroso. Prepare-se.